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Nº 5759
Opinião

Cabe�a, tronco e autom�vel

| José Medeiros * Quando iniciei minha vida de profissional médico, na década de 60, tinha interesse em publicar artigos científicos e de literatura em jornais locais. Busquei essa oportunidade. O jornal que me ofereceu espaço me fez a seguinte recomenda

Por | Edição do dia 22/02/2006 - Matéria atualizada em 22/02/2006 às 00h00

| José Medeiros * Quando iniciei minha vida de profissional médico, na década de 60, tinha interesse em publicar artigos científicos e de literatura em jornais locais. Busquei essa oportunidade. O jornal que me ofereceu espaço me fez a seguinte recomendação: escreva menos sobre medicina e mais sobre política e literatura. A observação tinha motivo. Minhas duas primeiras crônicas versavam sobre a gripe asiática em Alagoas e sobre as vacinas, que, naquele momento, representavam um passo de gigante nos avanços da medicina. Para muita gente, era difícil acreditar que uma pequena dose de vacina oral fosse capaz de evitar uma doença tão perigosa como a paralisia infantil (poliomielite). Num estágio que realizei na Universidade de Athens (Ohio - Estados Unidos), era sempre lembrada uma epidemia de paralisia infantil, que ocorrera pouco antes do aparecimento da vacina contra essa doença. Em 1952, um surto violento dessa enfermidade provocara o aparecimento de lesões em 60.000 pessoas, com 3.000 mortes registradas. Um desafio cruel para os serviços de saúde americanos, vencido pelo aparecimento da vacina. Em 1979, o Ministério da Saúde brasileiro entrou na guerra pela erradicação da paralisia infantil, com o apoio da Organização Mundial de Saúde. Data, também, da década de 60, o realce dado pela mídia e órgãos de saúde às caminhadas, como prevenção das doenças cardiovasculares. Recomendava-se aos homens maduros: caminhar bastante, beber vinho no almoço e no jantar e parar de fumar. Aos jovens, investir na prática de esportes e no aprimoramento físico. O futebol brasileiro trouxe um grande alento à prática de esportes pela juventude, ao abrir valiosos espaços na grande mídia, ao vencer campeonatos internacionais e participar de Olimpíadas. Caminhadas passaram a ser reconhecidas como vacinas contra o envelhecimento precoce e doenças degenerativas do coração. É sempre lembrada a experiência de um pesquisador do Havaí, que acompanhou um grupo de 1.000 homens aposentados, por 12 anos, concluindo que o índice de mortalidade dos que caminhavam quatro quilômetros por dia era 50% menor em relação ao outro grupo que não caminhava. Vivemos envolvidos em muito trabalho. Caminha-se pouco. O corpo humano passa a ter uma divisão diferente daquela que nós aprendemos na escola: em lugar de cabeça, tronco e membros; passa a ser cabeça, tronco e automóvel. Alguns minutos de caminhada por dia - em torno de 20 a 40, a critério médico - pode proporcionar confortáveis anos de vida a mais. (*) É médico e ex-secretário de Saúde e de Educação.

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