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Nº 5836
Opinião

A igreja e os n�meros

DOM EDVALDO G. AMARAL * Uma de nossas revistas semanais – nunca demonstrando simpatia pela Igreja – alardeia ao número desta semana: “O fim da hegemonia católica!” Será? Bem, o seu divino fundador a tranqüilizou: “Não tenhas medo, pequeno rebanho, pois f

Por | Edição do dia 19/05/2002 - Matéria atualizada em 19/05/2002 às 00h00

DOM EDVALDO G. AMARAL * Uma de nossas revistas semanais – nunca demonstrando simpatia pela Igreja – alardeia ao número desta semana: “O fim da hegemonia católica!” Será? Bem, o seu divino fundador a tranqüilizou: “Não tenhas medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o reino” (Lucas 12, 32). Vejam bem: trata-se de pequeno rebanho. Numa parábola Ele compara sua Igreja com o “grão de mostarda”, a menor de todas as sementes (Marcos, 4,31). E o Evangelho de Mateus termina, assegurando Jesus aos seus discípulos: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mt. 28, 20). E fazendo de Simão a pedra, sobre a qual construiria sua Igreja, Jesus assevera: “E as portas (= o poder) da morte não poderão vencê-la” (Mateus 16, 18). O censo de 2000 deu para a Igreja Católica a proporção de 73.77% dos brasileiros. Já era esperada essa proporção, porque se nos anos 50 o censo dera que 94% se diziam católicos, já no censo de 1990, esta proporção caíra para 83%. E sabia-se que a tendência era de baixar sempre mais esta proporção. Um número apreciável de entrevistados no censo declararam-se “sem religião”, isto é, sete milhões. Na maioria, são pessoas que crêem em Deus à sua maneira e criam um sistema pessoal de crenças, conforme suas próprias conveniências ou como fruto de problemas pessoais, de desentendimentos com responsáveis por alguma instituição religiosa. É possível que esses, em outros recenseamentos, tenham se declarado católicos, na falta de outra especificação religiosa. À pergunta genérica: “Qual é a sua religião?”, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) recebeu cerca de 35 mil respostas diferentes. Excluídos os católicos, os evangélicos e os sem religião, os que se declararam adeptos de outras religiões somaram 3.5% em 2000, quando eram 2.41% em 1991. Com a consultoria do Instituto de Estudos da Religião (ISER), o IBGE conseguiu reduzir a 5.000 respostas diferentes, que foram novamente reagrupadas e reduzidas para chegar ao final de 144 religiões diferentes, incluindo aí os declarados “sem reli-gião” e os pertencentes à religião não determinada. Os evangélicos pentecostais (como a Assembléia de Deus e a Igreja Universal do Reino de Deus, na classificação do IBGE) pularam de 8.1 milhões em 1991 para 17.6 milhões no censo de 2000. As religiões afro-brasileiras (umbanda, candomblé etc.) perderam adeptos, baixando seu percentual de 0,4% em 1991 para 0.3% em 2000. É possível que freqüentadores desses cultos pertençam a outras religiões, católicos ou protestantes. Os muçulmanos (a maior religião do mundo) são no Brasil 18.500, abaixo dos budistas (245 mil) e dos judeus (101 mil). Apareceram também grupos que não figuraram em recenseamentos passados, como os praticantes de cultos esotéricos (67,2 mil) e de cultos indígenas (10,7). Trezentos e vinte e oito mil brasileiros disseram ter duas religiões ou declararam religiões que o IBGE não conseguiu definir. Esses significam apenas 0.2% da população brasileira. Que dizer diante desses números? Luiz Alberto Gomez Sousa, diretor-executivo do Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (Ceris), órgão da CNBB, avaliou acertadamente que “o catolicismo deixou de ser uma adesão tradicional (até na falta de outras opções) para se tornar uma adesão pessoal e o número de católicos de estatística vai se aproximando, graças a Deus, do número de católicos verdadeiros, realmente praticantes”. E acrescentou com perspicácia: “Acho até bom esse fato, porque assim as pessoas fazem uma opção pessoal. Quem é católico de estatística é católico mesmo. Isso não amedronta, mas é um desafio para a Igreja Católica”... Concordo plenamente com essa opinião e penso que a grande preocupação da Igreja hoje é formar cristãos autênticos, comprometidos com Jesus Cristo em sua vida pessoal, familiar e social. Cristãos, que vivam sua fé em todas as situações, no ambiente familiar, no exercício de sua profissão, em sua opção política e em seu posicionamento de cidadão, responsável e conseqüente em sua adesão a Cristo. (*) É ARCEBISPO DE MACEIÓ

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