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Nº 5759
Opinião

Quem assassinou o super-homem?

| Sérgio Costa * No começo tudo era irracional. Para sobreviver, o homem matava e/ou roubava naturalmente o seu semelhante. Mas ele precisava provar que a racionalidade o diferenciava dos outros animais. Porém, conter as paixões violentas e o cinismo d

Por | Edição do dia 24/02/2006 - Matéria atualizada em 24/02/2006 às 00h00

| Sérgio Costa * No começo tudo era irracional. Para sobreviver, o homem matava e/ou roubava naturalmente o seu semelhante. Mas ele precisava provar que a racionalidade o diferenciava dos outros animais. Porém, conter as paixões violentas e o cinismo do ser humano era tarefa para um super-homem - um ser supremo e imortal que, acima de qualquer suspeita, pudesse ao mesmo tempo regular e mediar os graves conflitos da humanidade. E o homem criou o Estado. Era necessário, entretanto, que todos contribuíssem para que a nova criatura pudesse realizar o bem comum. E vieram os tributos. Nesse momento, firmou-se um contrato no qual duas coisas, entre outras, ficaram bem definidas: o Estado não poderia intervir nos negócios privados, a não ser que os direitos e deveres preestabelecidos fossem desrespeitados, e o inverso, ou seja, a invasão do setor privado nos negócios públicos seria um contra-senso imperdoável, seria a morte prematura do Estado. E assim deu-se início a um novo tempo. Contribuindo para o bem coletivo, o homem depositou todas as suas esperanças no Estado. Deu-lhe exércitos e polícias; colocou a sua disposição legisladores, juízes, promotores públicos e tribunais fiscalizadores. Uma coisa não pôde lhe dar: um cérebro próprio. Imagine o computador sem o homem! Assim é o Estado. Logo, o cérebro do Estado é o conjunto dos cérebros dos homens que o representam. E o que vemos, hoje, no nosso País? Contradições ao contrato primitivo. De fato, de um lado vemos o Estado subtrair as riquezas do setor privado por meio da corrupção, dos privilégios, da elevação das taxas de juro e do insaciável aumento dos tributos. Pior: vemos a perda do poder aquisitivo e o endividamento do povo e não vemos um só serviço de boa qualidade! De outro, vemos o financiamento das eleições políticas comprar parte dos cérebros que dirigem as instituições do Estado. O acordo é deveras escravizador. Com efeito, assim acorrentado, o Estado não tem forças para impedir que o setor privado exija para si os recursos que deveriam ser aplicados em benefício do bem-estar comum. Conclui-se o óbvio: a irracionalidade, de ambos os lados, acabou por assassinar o super-homem. Voltamos à estaca zero! E agora? Bem, para realizar a exuberante tarefa de ressuscitá-lo é necessário que a razão volte a comandar o desarmamento da estupidez e da hipocrisia. Somente assim poderemos estimular bons sentimentos, iluminar consciências, bem como exigir responsabilidades. Não do Estado, que não tem remorso nem sente dor. (*) É contador.

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