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Nº 5759
Opinião

Rei Momo e Lula

| Ronald Mendonça * Lula e o carnaval não saem da mídia. Mesmo mantendo deliberada e cautelosa distância do que se convencionou chamar de ‘Loucuras de Momo’, reconheço que é praticamente impossível a completa indiferença. Apesar das perspectivas de uma

Por | Edição do dia 25/02/2006 - Matéria atualizada em 25/02/2006 às 00h00

| Ronald Mendonça * Lula e o carnaval não saem da mídia. Mesmo mantendo deliberada e cautelosa distância do que se convencionou chamar de ‘Loucuras de Momo’, reconheço que é praticamente impossível a completa indiferença. Apesar das perspectivas de uma comemoração pífia em Maceió, quase tudo em nossa volta exala carnaval. Articulistas alagoanos dedicaram suas matérias esta semana ao tema, produzindo emocionantes depoimentos pessoais sobre velhos carnavais. De certa forma, há unanimidade quando se conclui que os carnavais não são mais os mesmos. Na verdade, serviram-me de inspiração os textos impecáveis de Lisette Lyra, Barroso Filho, Eduardo Bonfim e Carlito Lima, dentre outros. No exato instante em que alinhavo esses comentários, as comportas da memória säo abertas pela sonoridade inconfundível de ‘Saca-Rolha’, marchinha que emprestou animação a vários carnavais. ‘As águas vão rolar/ garrafa cheia eu não quero ver sobrar/ Eu passo a mão no saca saca rolha/ e bebo até me afogar...’ traz de volta boas e específicas lembranças da minha infância, de festinhas carnavalescas familiares, quando não se ia a clube social. Aos 8 anos, funcionei como DJ num daqueles encontros. Foi uma época de cinto apertado em que o carnaval era comemorado na nossa própria casa. Meu pai, fugindo do estilo ‘não sou animado’ chamava os amigos e dançava até umas horas ao som de valente toca-discos. Relembro que Cachaça não é água era uma das canções mais solicitadas. Ao contrário do lado B do mesmo disco intitulado O bode está solto, fadado ao eterno anonimato. Como enfatizaram os meus diletos cronistas, houve uma mudança radical nos costumes. Os grandes bailes tornaram-se, do dia para a noite, obsoletos. Em 1975, descolei com um parente médico no Rio de Janeiro um convite para uma ‘Noite em Bagdá’, num clube famoso. Pensem numa festa de arromba! Poucos anos depois, assisti pela televisão melancólica ‘Bagdᒠàs moscas. O fenômeno foi nacional. Entre nós, independente da qualidade musical, o carnaval de rua, notadamente o da Bahia, transformar-se-ia no grande sonho de consumo a partir dos anos 80. As praias virariam opções de ‘descanso’ com chances de entrar na folia. Concluída, a estrada da Barra de São Miguel seria a pá-de-cal nas festas de clube maceioense. O fato é que a animação reciclou-se e mudou de endereço. Até o caricato Rei Momo trocou o visual balofo. Tudo evoluiu com incrível rapidez, menos o discurso enfadado do nosso estimado Lula. (*) É médico e professor da Ufal.

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