O crime e as urnas - Editorial
Dentre as polêmicas várias estimuladas pelo período eleitoral, e dentre as questões que mais merecem atenções dos poderes públicos, está a da profissionalização da compra e venda de votos. Com razão, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas,
Por | Edição do dia 04/03/2006 - Matéria atualizada em 04/03/2006 às 00h00
Dentre as polêmicas várias estimuladas pelo período eleitoral, e dentre as questões que mais merecem atenções dos poderes públicos, está a da profissionalização da compra e venda de votos. Com razão, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas, em reunião com juízes para tratar da aplicação das normas eleitorais neste ano, alertou para o loteamento da periferia, denunciando a generalização do comércio do sufrágio popular. Muitas denúncias anteriores respaldam a avaliação de que o feirão de votos está se sofisticando e tornando-se mais mafioso a cada eleição. Verdadeiras empresas (ou gangues?) estariam se consolidando no comércio do voto. O que antes era, aparentemente, um delito ético em relação à cidadania democrática, ao ser organizado coletivamente numa linha de produção, transmuta-se em objeto do trabalho mafioso, com todas as suas implicações, inclusive com o uso sistemático da violência. É o que salta aos olhos no recente e fartamente divulgado caso do assassinato de um conhecido cabo eleitoral em Maceió. A definição de motivação política chega a ser um atenuante para a complexidade do episódio, na verdade denunciador de uma feição típica do crime organizado guerreando, entre quadrilhas rivais, pelo domínio de territórios (como no caso dos traficantes e as bocas-de-fumo). No meio das denúncias, surge com naturalidade expressões como já fechei negócio com fulano, sicrano ofereceu melhor proposta, invadiram minha área e semelhantes. Explicitamente, estão de braços dados a compra e venda de votos, o domínio de territórios e o crime organizado. Os casos em tela são, obviamente, focos simultâneos para a polícia e para a justiça eleitoral. E exibem uma realidade apavorante, com perspectivas trágicas, o que reforça a extrema urgência de os poderes públicos unirem forças e declararem guerra aberta a mais essa forma de crime organizado.