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Nº 5759
Opinião

8 de mar�o: mulheres ainda em busca de cidadania

| Izabel Brandão * O Dia Internacional da Mulher foi instituído há quase um século e meio, a partir de uma greve ocorrida em 1857 numa fábrica onde mulheres trabalhadoras eram exploradas. Do século XIX para cá muita coisa mudou: do direito de votar e ser

Por | Edição do dia 08/03/2006 - Matéria atualizada em 08/03/2006 às 00h00

| Izabel Brandão * O Dia Internacional da Mulher foi instituído há quase um século e meio, a partir de uma greve ocorrida em 1857 numa fábrica onde mulheres trabalhadoras eram exploradas. Do século XIX para cá muita coisa mudou: do direito de votar e ser votada à liberdade sexual, a trabalhar fora de casa, compartilhar a educação de filhos e filhas com companheiros, entre outras conquistas. Mas se o mundo andou a passos largos em alguns setores, em outros a tão esperada “emancipação” da mulher não ocorreu. A sociedade ainda se escora na “voz” autorizada da cultura, isto é, a voz do homem, para que se afirmem as mudanças. Por exemplo, todas as vezes que se precisa saber o que ocorre com as mulheres, quem é ouvido são especialistas do sexo masculino. Raras vezes uma voz feminina é ouvida e quando é, essa voz apenas repete o que se espera dela: que ela reproduza a fala masculina. Mudou a sociedade e os valores por ela professados também, mas é aqui que a coisa tem um parâmetro de difícil articulação: como sedimentar as “boas” coisas – a liberdade para trabalhar, escolher sua profissão, ter filhos – com as coisas “ruins”? Quem vai “cuidar” da casa, da roupa, da comida, dos deveres, da feira, do almoço de domingo? Como assimilar todas as múltiplas identidades do feminino – da dona de casa à profissional que trabalha, da mãe à mulher que ama e é amada? Por mais que se fale que os homens também mudaram e que hoje eles já têm “permissão” para terem a tão temida sensibilidade (prerrogativa culturalmente associada a 9 entre 10 mulheres), a grande responsabilidade da educação desses mesmos homens ainda recai sobre as mulheres. E isso é sem dúvida um dos grandes problemas que ainda havemos de enfrentar no correr dos séculos (não é uma tarefa simples de resolver). Efetivamente, as mulheres, numa sociedade como a nossa, ainda são majoritariamente aquelas que cuidam, educam, ensinam e “conduzem” filhos e filhas do berço ao mundo. E a eles e elas ainda se costuma dizer que homem pode tudo e as mulheres “quase” tudo. Difícil conciliar mudanças contemporâneas com uma mentalidade antiquada e conservadora ainda muito forte e arraigada na nossa cultura. As mulheres continuam em busca de cidadania. A diferença da sua luta é que elas ocupam um corpo feminino, com tudo que isso implica. Por isso o 8 de março tem uma importância ainda a perder de vista: para além da justa homenagem, por lembrar que as mulheres representam mais de 50% da população e que ainda estão distantes da tão desejada igualdade. (*) É professora da Ufal.

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