Coeteris paribus
| Jorge Briseno * Três declarações de executivos marcaram-me bastante nos últimos dias. A primeira, do vice-presidente de uma grande rede de supermercados. Ele apresentou os motivos para investir em nossa capital: Em Maceió, 44% da população é ativa na
Por | Edição do dia 14/03/2006 - Matéria atualizada em 14/03/2006 às 00h00
| Jorge Briseno * Três declarações de executivos marcaram-me bastante nos últimos dias. A primeira, do vice-presidente de uma grande rede de supermercados. Ele apresentou os motivos para investir em nossa capital: Em Maceió, 44% da população é ativa na economia. Ao explicar o fato de instalar outro supermercado em Ponta Verde, afirmava: Lá queremos atender as classes A e B que moram na região. A segunda, feita por um representante da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira em Alagoas lamentando que, hoje é inviável investir na Pajuçara e Ponta Verde. O custo do terreno é alto, a metragem é pequena e o retorno do investimento, demorado. A última declaração foi de um colega da Cinal, ao justificar a saída da empresa do mercado de coleta e tratamento de lixo hospitalar e de não aceitar novos clientes, afirmou: Continuamos a atender apenas por compromisso social, por não haver alternativas viáveis para o setor. Os três executivos são uns sortudos. Eles podem agir de acordo com as forças do mercado, estudando-as, avaliando-as. Possuem a alternativa de atuar em determinado segmento econômico somente após analisar a potencialidade dos clientes, sua localização geográfica, viabilidade de aceitá-los ou não, tamanho do mercado etc. Na Casal, não possuímos essa regalia. Temos de abastecer com água tratada membros menos privilegiados da sociedade, segmentos da população sem nenhuma capacidade de pagamento, localizados em áreas distantes das nossas estações, em regiões sem nenhum atrativo financeiro para a iniciativa privada, como povoados do semi-árido alagoano, favelas e grotas. Praticamos nessas localidades a tarifa social, que corresponde à metade dos custos de operação do sistema e ainda, suprema ironia, realizamos campanhas para a utilização racional da água. Ora, tal fato seria como se um supermercado realizasse campanhas orientando seu cliente a comprar menos mercadorias. O gerente seria internado como louco no dia seguinte. Para se ter uma idéia das nossas dificuldades, ampliamos, em Passo do Camaragibe, uma estação de tratamento de água com o intuito de auxiliar na redução dos indicadores de mortalidade infantil e das doenças intestinais. Segundo estudos de nossos economistas, esse investimento de R$ 700.000,00 apresentará lucratividade apenas no ano 2025, se nenhum equipamento necessitar de manutenção, nenhum acidente acontecer e se todos, eu disse todos, os usuários do sistema contribuírem com seus pagamentos em dia até aquele ano. Para lidar com o imponderável, os economistas criam para auxiliá-los nessas análises futurísticas o termo coeteris paribus que, em latim, significa tudo o mais permanece constante. Se a vida assim fosse seria ótima. Porém, na vida real, a única coisa permanente é a mudança. (*) É engenheiro e atual presidente da Casal.