Opinião
Destino

| Lysette Lyra * Stela e Rosa eram amigas inseparáveis desde que entraram como internas no Colégio Sacré Coeur de Jesus, no alto da Tijuca, no Rio de Janeiro. Temperamentos alegres, gosto pelos estudos, mesmo modo de pensar, amor aos esportes eram o elo que as unia. A solidão do internato, a ausência da família, mais aumentavam aquela amizade sincera. Tornaram-se adolescentes, despertaram para a vida sempre juntas. O regresso das saídas quinzenais para casa, o retorno das férias, quando ficavam separadas por mais tempo, pois suas famílias viviam em cidades diferentes, davam motivos para longas conversas nas quais confidências, as mais íntimas, eram trocadas entre as meninas. Terminado o curso, cada uma tomou seu rumo. Correspondiam-se no princípio, mas, depois, a vida mesmo se encarrega de separar as velhas amizades. Nunca mais se viram. Os anos se passaram. 25 anos. No primeiro jubileu de formatura, algumas colegas decidiram congregar a turma de ex-alunas para uma grande festa comemorativa. Atendendo ao chamamento, Stela e Rosa também foram. Exultavam em reverem-se, há tanto afastadas! No íntimo, queriam-se com a mesma intensidade. Relembravam os bons tempos de escola quando um verdadeiro pacto as unia. Enfim chegou o esperado dia e o jantar festivo. Procuraram-se mutuamente no meio de tantas colegas. Os anos haviam marcado e modificado, algumas, duramente, mas sempre restavam alguns traços que denunciavam suas identidades, apesar dos 25 anos decorridos. Rosa se assustou e teve dificuldade em conter as lágrimas quando reconheceu Stela. Foi um choque brutal para ela. Nada restava na amiga, da jovem loura, esguia e elegante que deixara no dia da formatura. A moça fora acometida de um câncer no braço, inicialmente (contou Stela, quando viu o ar de espanto estampado no rosto da outra) tivera de amputá-lo. Porém não fora só o braço, outros tumores atingiram a clavícula e os dois seios. Mesmo mutilada, ainda havia tido quatro filhos, todos homens, sadios e belos. O marido, um alemão bem mais velho que ela, havia sido um companheiro generoso e caritativo que lhe dera toda assistência e apoio. Casara-se por decisão da família, também alemã, mas não se arrependera, pois ele fora sempre muito compreensivo e paciente com ela. Era muito rico e pudera lhe dar o maior conforto. Criara os filhos, hoje engenheiros e empresários bem-sucedidos. O esposo havia falecido de enfarte, e ela, agora, vivia com os filhos, mas era quem enfrentava com garra, os negócios. O que admirava nela era sua força, sua conformação, e aquele enorme desejo de viver. Que belo exemplo de coragem! (*) É escritora.