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Al�vio, apenas al�vio

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| Ronald Mendonça * Era manhã de um domingo, véspera de 15 de novembro de 1999. A cidade parcialmente esvaziada pelo feriadão relutava em despertar. Na minha residência no Farol um sanguinário bandido espreitava meus filhos. Enquanto Lavínea, minha primogênita, tomava café lendo um livro, Roninho, que na noite anterior havia chegado mais tarde, dormia no andar superior. No Recife há 3 dias, já na segunda-feira, fomos informados de que a cozinheira não estava conseguindo entrar na casa. Pela descrição, o ambiente era desolador. Os cachorros soltos vagando pelo jardim emporcalhado, latiam ameaçadores. A inesperada atmosfera de abandono não deixou dúvidas de que algo muito grave havia ocorrido. Escalando muros e telhados, finalmente um cunhado penetraria no quarto do Roninho, ficando em estado de choque ao deparar-se com os corpos dos meus filhos vazados de balas, covardemente alvejados 24 horas antes. Os guarda-roupas revirados, o sumiço de jóias e dinheiro, além da falta do carro da Lavínea, eram sinais inquestionáveis de brutal latrocínio. A autoria da monstruosidade também não deixava dúvidas: o empregado da casa, àquela altura desaparecido, misto de jardineiro e faxineiro, que trabalhava conosco há 1 ano e meio. Dias depois, o assassino seria preso, após mal-sucedida fuga para São Paulo com um irmão, provável comparsa dos crimes. As entranhas de um criminoso de incalculável periculosidade foram expostas. Réu confesso, farsante e dissimulado, a frieza dos relatos (na verdade contou o que quis) e sobretudo a postura nas cenas de reconstituição dos crimes incomodariam até aos mais experientes policiais. Pelo duplo assassinato, a condenação beirou os 30 anos (que valem por cinco). Com a sabedoria de praxe, a Justiça não enxergou crime hediondo. Quem sabe, ter-se-iam encontrado até motivos de sobra para a eliminação física dos meus filhos. Passados 6 anos e 4 meses cercado de tantas dolorosas lembranças, é de se imaginar que manter as idéias em ordem para continuar tocando a vida não é tarefa amena. Contudo, hoje, amparados pela inexcedível troca de afetos com os netos, reencontramos forças para voltar a sonhar. No início desta semana, soubemos que o bandido havia sido morto, coincidentemente num domingo de manhã. A notícia nos deu uma sensação de alívio. Apenas alívio. (*) É médico e professor da Ufal.

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