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Nº 5759
Opinião

Uma coisa sem nome

DOM FERNANDO IÓRIO * Apenas foi noticiada a clonagem de um embrião humano, nos Estados Unidos, no final de novembro do ano passado, reuniu-se o Conselho Episcopal da Pastoral da CNBB para proferir: “clonagem não!” Se a intenção do laboratório foi testar

Por | Edição do dia 22/05/2002 - Matéria atualizada em 22/05/2002 às 00h00

DOM FERNANDO IÓRIO * Apenas foi noticiada a clonagem de um embrião humano, nos Estados Unidos, no final de novembro do ano passado, reuniu-se o Conselho Episcopal da Pastoral da CNBB para proferir: “clonagem não!” Se a intenção do laboratório foi testar a opinião pública mundial, o objetivo foi alcançado, porque a reação contrária se fez ouvir de todos os continentes. De acordo com os diretores do laboratório americano, a idéia era usar o embrião clonado para obtenção de células-tronco e não para copiar um ser humano. Entretanto, o resultado da tentativa inicial foi verdadeiro fracasso; o embrião apenas se de-senvolveu durante algumas horas, chegando a seis células, quanti-dade insuficiente para a repro-dução, conforme os cientistas. A idéia de se fabricar a cópia de determinado ser humano tem suscitado polêmica nos meios científico, político e religioso. Não poucos cientistas consideram a proposta inoportuna. A Igreja assume, de imediato, a posição contrária por discordar de qualquer experiência sobre manipulação genética em seres humanos. Há motivos fortíssimos contra a clonagem. Primeiro, porque a tentativa em animais, iniciada faz mais de cinco anos, obteve resultados duvidosos: a maioria dos animais clonados foi sacrificada por apresentar deformidades monstruosas. O aproveitamento dos animais clonados tem sido de apenas 1,5%. Qual seria o aproveitamento dos seres humanos clonados para resultar um bebê vivo? A previsão é que de 30 mulheres engravidadas, apenas oito chegarão ao final da gestação. Dos oito nascidos, cinco deverão morrer ou por problemas graves ou por eutanásia. Os três sobreviventes irão sofrer envelhecimento precoce, doenças degenerativas ou câncer na primeira infância. O interessante é que a população não assimilou ainda o que representa a clonagem do ser humano. Apenas a sabedoria popular apresenta seu conceito sobre o assunto: “o homem está brincando de Deus”, sem saber em que vai dar a brincadeira. Tudo me faz lembrar a significativa cena de Shakespeare: Macbeth encontra três bruxas mexendo num enorme caldeirão, ao tempo em que proferiam fórmulas cabalísticas. Pergunta, curioso, o que estão elas fazendo, recebendo, de logo, a resposta: -“Estamos fazendo uma coisa sem nome”. Será que a clonagem vai resultar em clonagem ou numa coisa sem nome, monstruosa, indecifrável, indizível? (*) É BISPO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS

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