A Igreja e as pessoas deficientes
| Dom Fernando Iório * Quando abrimos as Sagradas Escrituras, vamos, de logo, encontrando Jesus cercado de pessoas deficientes. NEle procuravam apoio e, mais do que isso, a cura. Continuadora da missão salvífica de Jesus Cristo, sempre procurou a Igreja
Por | Edição do dia 04/04/2006 - Matéria atualizada em 04/04/2006 às 00h00
| Dom Fernando Iório * Quando abrimos as Sagradas Escrituras, vamos, de logo, encontrando Jesus cercado de pessoas deficientes. NEle procuravam apoio e, mais do que isso, a cura. Continuadora da missão salvífica de Jesus Cristo, sempre procurou a Igreja incluir, na sua caminhada, as pessoas marcadas por qualquer deficiência, física ou mental. Assim, desde os primeiros séculos, a Igreja procurou tomar a frente nesse processo de defesa e de inviolabilidade da vida humana. Combateu o infanticídio, a pedofilia e os espetáculos dos circos romanos, nos quais eram os homens massacrados até a morte ou entregues às feras, como inúteis. Graças à influência da Igreja, o infanticídio foi , definitivamente, condenado no século IV. As mulheres, mães de crianças deficientes, foram encorajadas a poupar-lhes a vida, deixando-os aos cuidados da Igreja. Os cristãos procuraram criar dispositivos para acolher esses bebês e dar-lhes especial educação. Pelos idos do ano 1000, mantinha a Igreja, em Bizâncio, um Centro com 7 mil leitos destinados a todos os tipos de deficiências. Na Idade Média, as ordens religiosas começaram a especializar-se nesse atendimento às pessoas deficientes. Originaram-se daí os hospícios, ou lugares de acolhimento. Aí, os religiosos davam hospedagem, acolhendo pessoas deficientes e necessitadas. O papa Inocêncio III, em 1198, autorizava o casamento de um surdo, dizendo: Quem não pode falar, pode, em sinais, manifestar-se. Sob a influência da Igreja, o rei São Luís criou hospícios para atendimento de cegos e leprosos. Em 1220, São Francisco de Assis, que faleceu cego e marcado pelas chagas de seus estigmas, transformou o pobre e o excluído da sociedade em um ser sagrado. Ajudá-los seria um grandioso sinal de religiosidade e de dignidade moral. Criaram, desde então, os franciscanos grandes espaços de acolhida para as pessoas deficientes. No fim do século XIV, na Europa, a situação das pessoas deficientes deteriorou-se. Afastada de Deus, a sociedade secularizada começou a reprimi-los. A Igreja, entretanto, por meio do abade Pierre François Jamer, restaurou o Instituto das Irmãs do Bom Salvador para as pessoas deficientes. A CNBB escolheu para a Campanha da Fraternidade - 2006, o tema: Fraternidade e pessoas com deficiência, com o lema: Levanta-te, vem para o meio, (Mc. 3,3), mostrando que o lugar do deficiente é entre nós. (*) É bispo de Palmeira dos Índios.