Alagoas novamente esteve no foco da mídia nacional. O motivo é rico em significados: A primeira brasileira de origem indígena conquista o título de doutor com uma tese desenvolvida e aprovada na Ufal. Os significados desse triunfo têm grande importância e devem ajudar aos brasileiros a melhor compreender nossa diversidade étnica e como estamos longe de compensar, em algo que valha a pena, nosso imenso débito para com os injustiçados sociais e raciais. A história dessa heróica Maria, uma Pankararu, doutora dentre tantas almas discriminadas das muitas tribos nativas desta terra (algumas extintas, como os Caetés) é exemplar. Com grande competência, sem abandonar sua simplicidade pessoal, essa herdeira dos pankararus foi capaz de vencer cinco séculos de discriminação e de injustiças. O título de doutora conquistado por Maria Pankararu não redime nossa sociedade, que segue devedora, incapaz de definir políticas eficientes de inclusão social para os índios brasileiros. Maria, com seu riso cativante e seu título de Doutora, nos lembra (sem arrogância, sem ódio) não só o quanto devemos aos nossos irmãos nativos, mas nos prova que a sociedade brasileira tem todas as condições de, efetivamente, começar a pagar essa gigantesca dívida para com os pakararus, kariris, xocós, yanomamis, carajás, guaranis, tupis, caetés... Maria nos lembra quanto é produtiva a concepção de um Brasil plural ao arrebatar a nota dez com louvor na defesa de uma tese sobre a língua ofayé, falada por índios nos estados de Mato Grosso e São Paulo, tese essa defendida em Alagoas por uma índia nascida em Pernambuco. Quantos brasis juntos num só esforço. Em pleno Dia do Índio, as felicitações para a vitória acadêmica de Maria tiveram um sabor bem especial. Doutora Maria Pankararu, muito obrigado pela lição que você nos deu.