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Nº 5759
Opinião

Abandonos de beb�s

| Dom Fernando Iório * Compreensível comoção vem causando os seguidos abandonos de bebês noticiados pela imprensa. Em contextos sociais como os nossos caracterizados pela violência, pela brutalidade, os repetidos abandonos de crianças recém-nascidas mexe

Por | Edição do dia 25/04/2006 - Matéria atualizada em 25/04/2006 às 00h00

| Dom Fernando Iório * Compreensível comoção vem causando os seguidos abandonos de bebês noticiados pela imprensa. Em contextos sociais como os nossos caracterizados pela violência, pela brutalidade, os repetidos abandonos de crianças recém-nascidas mexem, profundamente, com a sensibilidade humana. Essa absurda atitude de abandonar a própria prole não é novidade entre os seres humanos, nem mesmo entre os mamíferos. O que caracteriza os tempos atuais é o registro visual e a subseqüente divulgação dessa traumatizante experiência que comove, a ponto de suscitar sentimentos de indignação e de precipitada condenação de desnaturadas mães. Pediatras, psicólogos, sacerdotes, sociólogos advertem que semelhantes casos não são tão simples assim e insistem numa avaliação mais cautelosa e criteriosa. Não faltam exames clínicos comprovando a depressão pós-parto como responsável por induzir a mãe a tomar atitudes agressivas contra a prole, tramando a sua eliminação. Essas reações pós-parto não deixam de ser reflexos de traumas de rejeição reprimidos, durante anos. Haja vista uma menina que, desde o ventre materno, se sentir rejeitada, tem considerável propensão para o desequilíbrio psicológico pós-parto. Sendo assim, não é correto apressar-se, fazendo julgamentos e condenações precipitadas das pessoas. Essa triste seqüência de bebês abandonados está a confirmar aquela alarmante tendência dos tempos atuais: o aumento da solidão e do sentimento de rejeição no passado das pessoas. O abandono da própria prole revela, sem dúvida, o aspecto mais sinistro dessa consternadora tendência. Vemos multiplicado o número de pessoas que se isolam. Cresce o número de depressivos, de pessoas que não se sentem amadas e por isso preferem viver na penumbra, achando-se sem valor, sem estímulo para a realização de algo construtivo na vida. São pessoas a quem lhes falta a auto-estima e, por isso mesmo, se encolhem, procuram desaparecer, eliminando a própria prole, agredindo-a como forma de agredir a si mesma. A agressividade vem a tornar-se uma alucinante forma de autodefesa, mormente quando fere a si mesma, atingindo a própria prole, gerada na falta de amor. No final de contas, tudo se faz na penumbra, para que, na claridade do dia, alguém salve a rejeição pelo acolhimento. (*) É bispo de Palmeira dos Índios.

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