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Holocausto � moda

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RONALD MENDONÇA * No início dessa semana, fui chamado para examinar um paciente na porta do consultório, no interior de um automóvel. O doente não conseguia caminhar e os familiares não tiveram como levá-lo até onde eu estava. Com efeito, o paciente mal se mexia por conta de grave fraqueza muscular generalizada. Estava com a pressão arterial baixa, respirava com dificuldade e sua voz era quase inaudível. Acabara de sair de um hospital psiquiátrico depois de um internamento de 12 dias para tratamento de suposta psicose alcoólica. Aparentemente superada a fase de alucinações e delírios, recebeu alta – temerária, é bom que se diga – com a recomendação de procurar um outro hospital, “pois o caso já não era mais ‘psiquiátrico’ e sim ‘clínico’. Cliente do SUS, é claro que nenhum hospital “geral” aceitou recebê-lo. Eis o retrato sem retoques – apenas a pontinha de um gigantesco iceberg – da assistência psiquiátrica (e médica) no país, sobretudo depois das inteligentes “reformas psiquiátricas”. Veja-se a situação do “usuário” acima. Alcoólatra – hoje com 45 anos que mais parecem 65 – bebe desde a adolescência. Irrecuperável? Não sei dizer. É inquestionável a condição de doente mental e físico. Ao contrário do que pensam os arautos das “reformas” que odeiam alcoólatra, tanto quanto odeiam donos de hospital, o alcoolismo é doença grave, freqüente, que incapacita seu portador, podendo levá-lo à morte. É recorrente como muitas doenças e provoca danos irreparáveis também à família. A situação dos alcoólatras e de seus familiares, hoje, não poderia ser pior. Por determinação do “sistema”, tem prazo exíguo para permanecer em hospital psiquiátrico, pelo visto, independentemente do estágio da doença. (A coisa está tão perversa que os hospitais morrem de medo de internar alcoólatras para não ser alvos de represálias do “comitê central”). Aliás, tendo como peça de resistência o fechamento dos hospitais psiquiátricos, foi imposta uma cartilha que normatiza – com mão de ferro – o atendimento hospitalar aos doentes mentais, mas que tem passagens de fazerem rir o leitor mais sisudo. Imaginem que o hospital perderá pontos e poderá vir até a ser descredenciado se fiscais do SUS surpreenderem doentes descalços ou, eventualmente, coincidir de ficarem nus durante uma dessas visitas-surpresa. O fato é que estão conseguindo asfixiar os hospitais psiquiátricos. Além de redução significativa no número de leitos e do pagamento irrisório, soma-se o grau de exigência, risível é bem verdade, mas terrorista o bastante. Aos que desejarem saber aonde vão os doentes mentais depois de retirados à força dos hospitais, recomendo a leitura da Gazeta de Alagoas de ontem (24/05/02), onde, logo na primeira página, lê-se a chamada: “Doente mental é estuprada e estrangulada”. Pelo jeito, vão restar poucos. (*) É MÉDICO E PROFESSOR DA UFAL

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