Opinião
Altivez indispens�vel

HUMBERTO MARTINS * Quando o alagoano Floriano Peixoto exercia a Presidência da República ele foi o segundo presidente do Brasil, logo após nosso conterrâneo Deodoro da Fonseca ocorreram levantes militares que puseram em cheque seu governo. Como acontece (aconteceu?) ao longo da história brasileira, esses levantes eram episódios habituais. Por ocasião do levante, encontrava-se ancorada no porto do Rio de Janeiro uma força-tarefa da Real Marinha Inglesa. Seu comandante, sabendo das dificuldades do presidente Floriano, mandou-lhe um enviado com a oferta de desembarcar destacamentos ingleses para ajudá-lo a recuperar a ordem. O almirante britânico queria saber como seriam recebidos os ingleses, pelas forças legalistas, se desembarcassem. Floriano respondeu de maneira lacônica, como se fosse um espartano: À bala. O graduado inglês saiu da história e nunca mais apareceu, mas a frase de Flo-riano incorporou-se ao vocabulá-rio do patriotismo brasileiro. Mesmo nos tempos atuais, em que a idéia de globalização é confundida por muitos como um abandono aos valores tradicionais de Pátria, vale à pena recordar a sentença de Floriano Peixoto e compará-la com um episódio recém-acontecido: a deposição do embaixador brasileiro José Maurício Bustani da presidência da Organização para a Proscrição de Armas Químicas (Opaq), por imposição do governo dos Estados Unidos da América do Norte. Bustani foi afastado, porque se recusou a empregar a entidade que preside como instrumento de retaliação ao Iraque, pretendendo, ao invés disso, aperfeiçoar o diálogo com aquela nação árabe, a exemplo do que fez com todos os países filiados à Opaq. Dois meses após o início da campanha da Casa Branca contra o embaixador brasileiro, o desfecho da votação refletiu o poder de Washington 48 votos contra Bustani, 43 abstenções (a maioria de países latino-americanos) e apenas sete votos favoráveis aos brasileiros, entre eles China, Rússia, México, Irã, Bielo Rússia, Cuba e o próprio Brasil, como é óbvio. Os Estados Unidos precisavam de 66% dos votos para conseguir afastar Bustani, mas conseguiram 87%. Foi um linchamento. Fui trucidado confortavelmente, reconheceu Bustani. Estou decepcionado. Não houve nem sequer um debate sobre a base legal da minha saída. Esse é efeito do rolo compressor da atuação dos EUA, acrescentou. Segundo Bustani, os países que votaram pelo seu afastamento foram acuados e aterrorizados. Entre as abstenções, a surpresa foi a França, que não seguiu a orientação dos demais governos europeus de apoiar os Estados Unidos, revela o noticiário internacional sobre a matéria. No mesmo jornal em que estão todas estas informações sobre o afastamento do diplomata brasileiro da Opaq, do Recife, figura uma notícia sobre a participação dos Estados Unidos no fracassado golpe de Estado contra o presidente Hugo Chávez, da Venezuela: Um segundo oficial norte-americano de alto escalão o coronel do Exércico Ronald Mac Cammon, integrava o grupo que preparou o golpe contra o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em 11 de abril. (*) É DESEMBARGADOR DO TJ/AL.