Opinião
Extens�o universit�ria

ÁLVARO ANTÔNIO MACHADO * A saúde é um produto social e, como tal, para ser plenamente alcançado, requer a adoção simultânea de políticas externas ao setor, que interfiram nos determinantes sociais do processo saúdedoença das coletividades, tais como as políticas macroeconômicas e as relativas ao emprego, à habitação, à educação, ao transporte, ao lazer etc. Por razões diversas, as universidades brasileiras voltam a discutir a questão da extensão universitária. Com o objetivo de colaborar nesse sentido, fazemos, aqui, uma abordagem acerca do papel esperado da universidade, no contexto das suas atividades de extensão relacionadas ao setor saúde. Não nos referimos ao tradicional setor saúde, isolado, e sim ao setor de saúde que todos têm a ver, ou seja, aquele que propicia às pessoas uma rede de assistência integral à saúde, associada à adoção de políticas públicas diretamente relacionadas com a condição de saúde de cada um e de todos os brasileiros. Nessa intersetorialidade se insere a universidade, sobretudo a universidade pública, que deve fomentar uma nova cultura intervencionista, baseada no fortaleci-mento das ações intersetoriais, visando à criação das condições indispensáveis à promoção, proteção e recuperação da saúde em seu sentido pleno. Essa nova cultura, ao lidar com algo tão amplo e, por vezes, tão complexo, que é a adoção de políticas públicas numa visão de desenvolvimento integral, exige hoje da universidade um papel que lhe é peculiar: a recomposição da democracia brasileira. Democracia não apenas como termo para distinguir uma forma de governo, mas enquanto espaço de construção do novo a partir da diversidade. Nessa direção a universidade deve retomar a idéia de que as diversidades não são pontos de antagonismos irreconciliáveis, mas são, dialeticamente, pontos de criação de novas realidades a serem experimentadas e desenvolvidas. Essa exigência atualíssima se faz para que o processo requerido não ocorra sem a devida reflexão da comunidade acadêmica, o que seria lamentável, pois o País correria o risco de repetir o modelo anterior, no qual as divergências eram motivo de eliminação dos contrários e não de sua síntese. O Sistema Único de Saúde SUS possui uma diretriz essencial, que é a participação comunitária, exigida nas formas de organização do Sistema em todas as esferas de governo. Nisso destaca-se um importante papel da universidade, no tocante às suas atividades de extensão no campo da saúde, ou seja, contribuir para a democratização do conhecimento crítico acerca do nosso Sistema Único de Saúde, capacitando as lideranças municipais, apoiando tecnicamente os segmentos organizados da sociedade e propiciando, por esses mecanismos, que a população adquira o necessário vínculo com o Sistema. A função social da universidade envolve também a formação de alunos com o maior conhecimento possível da realidade a sua volta, fato que somente pode ser viabilizado se ao formando é possibilitado conhecer/ aprender/ interagir nos ambientes que conformam esta realidade. Surgem, portanto, como importantes elementos de extensão, os estágios de campo dos diversos cursos da área da Saúde, os quais devem ser realizados em ambientes integradores, ou seja: mesmo havendo um choque cultural, entre o que o aluno vive no contexto universitário e o que ele encontra no campo, tem que haver possibilidade de reais intervenções do aparelho da universidade no sentido de modificar a realidade encontrada. Nesse sentido, a ampliação dos estágios para bairros da periferia da universidade, para a rede de serviços que está no seu entorno, possibilita um alcance maior dessa proposta, à medida que é bem mais facilitada essa ação integradora. Os estágios, assim, não devem cingir-se a fenômenos desintegrados, para provocar unicamente o choque cultural que, no passado, constituía um fim em si próprio, mas que hoje, seguramente, não é mais suficiente. (*) É SECRETÁRIO DE ESTADO DA SAÚDE DE ALAGOAS