Opinião
A fome end�mica e a elei��o para presidente

| Fátima Albuquerque * Mais uma vez busco notícias do Brasil. Afinal é tempo de eleição e, mais do que nunca, vale a pena acompanhar os desdobramentos da campanha. Apesar de não esperar surpresas, ainda me assusto com o teor de certos e-mails que recebo de ?amigos de última hora?, que tiveram acesso ao meu endereço eletrônico. São mensagens, eu diria, desesperadas, as quais tentam criar um link com algum complexo de inferioridade que porventura tenha. São charges, mensagens de texto, piadas, todas de natureza pejorativa e capciosa, ciberneticamente enviadas, que tentam me convencer de que votando no barbudo, estaria votando no que há de pior neste País. Ora, este governo pode não ser o melhor, mas com certeza, não é pior do que o que tivemos até o período de 2002. E, o lugar de onde falo, é exatamente o lugar dos que lidam com a questão da fome e da pobreza e seus respectivos desdobramentos na área da saúde e da nutrição. A saúde e a nutrição podem ser entendidas como expressões biológicas das marcas de nossa sociedade, de como decidimos organizar a interação do ser humano com o meio ambiente. Nesse sentido, a estruturação política dos seres humanos nas sociedades e a conseqüente articulação da exploração dos recursos naturais, caracterizam a saúde, fome e pobreza de qualquer sociedade, porque como nos diz Foucault, o corpo humano é ?uma realidade bio-política?. Portanto, a fome endêmica silenciosa, ou seja, aquela que enche a barriga de nossa população de alimentos baratos e de péssima qualidade, e os hospitais de gente doente, acompanha historicamente, o modelo de desenvolvimento adotado pelo País. E, ninguém diga que não sabia. Porque convém lembrar que há 60 anos, Josué de Castro, já havia nos alertado de que a fome era um fenômeno criado artificialmente por este modelo. Portanto, é dessa perspectiva, que reconheço a importância e força da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan), sancionada em setembro de 2006, que responsabiliza o poder público pelo acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e quantidade suficiente a toda a população. É claro que essa vitória se deve principalmente à sociedade civil organizada e compromissada com a melhoria de nosso País. Entretanto, é relevante se reconhecer a importância da vontade política em assumir, pela primeira vez, enquanto Estado o seu papel de provedor e efetivador de direitos humanos. E aí? Já está tudo resolvido? Não! Precisamos continuar na luta. Precisamos persistir. Ainda restam 40 milhões de brasileiros (as) com fome! (*) É professora da Ufal.