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Nº 5759
Opinião

O Dia do M�dico

No dia 18 de outubro foi festejado o Dia do Médico. Esposa de médico durante 47 anos, mãe de médico e avó de dois, realmente minha convivência com a medicina foi um imperativo na minha existência. Os médicos de antigamente tratavam de toda a família, ger

Por | Edição do dia 27/10/2009 - Matéria atualizada em 27/10/2009 às 00h00

No dia 18 de outubro foi festejado o Dia do Médico. Esposa de médico durante 47 anos, mãe de médico e avó de dois, realmente minha convivência com a medicina foi um imperativo na minha existência. Os médicos de antigamente tratavam de toda a família, geralmente a domicílio. Havia uma cumplicidade entre o profissional e o doente. Chegavam a ser um confidente de seus mais íntimos segredos. Conheciam tão bem seus pacientes que, às vezes já previam seu diagnóstico. Ganhavam bem, até enriqueciam com a profissão, mas o dinheiro não era o mais importante: a confiança, a amizade, a atenção valiam muito mais. Eram dedicadíssimos, amigos fiéis, prontos a perder a noite para dar assistência ao paciente. Bastava um telefonema e ele já estava em sua casa com aquele singular carinho e a competência que havia feito dele um grande esculápio. Mas os tempos mudaram, a Medicina socializou-se. Todos têm que trabalhar mais, pois os ganhos são mais reduzidos, todo mundo tem seguro de saúde, e são caros, embora paguem pouco os serviços dos médicos. Somente os mais competentes se podem dar ao luxo de só atender clientes particulares e de seguradoras de alto porte. E vivem cheios de clientes. Para se conseguir uma hora é um problema. Espera-se um tempão nos consultórios. Raramente atendem a domicílio. A Medicina alcançou um importante avanço. Junto com outras ciências criou aparelhagens incríveis que proporcionam diagnósticos precisos, mas são de alto custo. Muitas dessas máquinas têm que ser obtidas pelo governo para se tornarem accessíveis ao povo. O médico necessita trabalhar em vários lugares para ganhar mais. Os serviços públicos pagam mal, os convênios, também. E o esculápio precisa sobreviver. O mundo hoje é de correrias. Trabalha-se mais, se gasta mais, enfrenta-se um trânsito caótico, a família exige mais, tem-se que cuidar da saúde para alongar a existência, enfim a vida é cansativa. A correria do dia-a-dia deixa o médico estressado, assim ele tornou-se um profissional frio. Não há mais calor humano. Raramente existe amor pela profissão ou pelo paciente. Quando entramos no consultório, ele manda que nos sentemos. No computador faz a nossa ficha. Pega a caneta e receita uma série de exames a serem feitos em laboratórios e clínicas com aparelhagens ultramodernas e elucidativas. Quando muito nos tira a pressão arterial e nos ausculta. Mal nos olha. Raramente nos toca. Hoje existem especialidades para todas as partes do corpo, mas esquecem que temos alma e que o coração não é somente um músculo. Bem poucos médicos fogem a essa regra, sendo atenciosos e mais humanos e afirmo que têm muito mais sucesso. (*) É membro da Academia Alagoana de Letras.

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