O Papa bebe

| Marcos Davi Melo * Um aspecto dos mais interessantes vinculados à visita do Papa Bento XVI ao Brasil é o que se programou para ele comer e principalmente beber. Entre os vinhos catalogados para o sumo pontífice degustar e relaxar após os muitos e extenuantes compromissos que o aguardam, estão alguns nacionais e outros argentinos, mas o que vai certamente deleitar o santo homem, são os chilenos Senha e Don Melchor, ambos da festejada safra 2001. Aos precipitados, que preconceituosamente queiram fazer ilações malsãs em relação ao direito do papa tomar vinho, não custa lembrar que este precioso derivado da uva, foi louvado pelo Papa João XXI, o Papa Português, conhecido como Pedro Hispano, que escreveu a obra ?Thesaurum Paperum, Líber de Conservanda Sanidade?, onde exalta as suas qualidades e o recomenda entusiasticamente. O precioso líquido está intimamente ligado à história do cristianismo. O vinho, a vinha e o vinhateiro são citados na Bíblia mais de 500 vezes. Findo o dilúvio, o que primeiro fez Noé após deixar a arca? O Gênesis,9,20-21 diz: ?E começou Noé a ser lavrador da terra, e plantou uma vinha. E bebeu do vinho e embebedou-se?. Segundo o Eclesiástico, 39,26, apócrifo, o vinho faz parte ?do que é de primeira necessidade como a água, o fogo, o ferro e o sal, o trigo, o leite, o mel, o óleo e a vestimenta?. Já São Paulo aconselha o vinho para os males terrenos; na 1ª Epístola a Timóteo,5-23: ?Não continue a beber somente água; usa um pouco de vinho por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades?. Seguindo à risca o conselho de São Paulo, em favor de nossa saúde, ouçamos também Isaias,26,6: ?Yahvé preparará para todos os povos sobre essa montanha um festim de carnes saborosas, de tutanos gordos, um festim de bons vinhos?. Jesus mesmo bebeu bem. Seus companheiros o criticaram por comer e beber com publicanos e pecadores: ?Veio o filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um glutão e um beberrão, um amigo de publicanos e pecadores (Mateus11,19). Nas Bodas de Canaã, convidado para um banquete de casamento, acaba-se o vinho. Maria recorre a Jesus, que enche seis jarros de água e para felicidade geral, os transforma em vinho ( João 2,1 a 11). Portanto, se na Palestina consumia-se muito vinho ordinário, não há de se estranhar o consumo de vinhos especiais pelo Papa. In vino veritas: o consumo adequado de vinho está inversamente relacionado ao alcoolismo. Os Senha e Don Melchor, 2001 são das melhores coisas que a Terra e a uva podem oferecer. Que sejam bem aproveitados. (*) É médico e professor da Uncisal.