A poesia no lixo

| Luiz Barroso Filho * Chegou-me às mãos um CD intitulado ?Construindo a escrita?, contendo 13 poemas declamados, com trilha sonora, a exemplo do primoroso ?A Ilha do Pavão?, de Sérgio Caparelli: ?O pavão abriu a cauda sobre o delta do Guaíba,/ disputando com o poente de quem era a cor mais viva./ E o poente: Tu és apenas ilha!?. O disco que faz parte de um projeto educativo de uma editora, destinado ao ensino fundamental, com a intenção de formar alunos críticos e questionadores, reúne textos de autores consagrados, como Cecília Meireles, Dorival Caymmi, Chico Buarque de Holanda, Manoel Bandeira, Patativa do Assaré, Fernando Pessoa, Paulo Mendes Campos e Carlos Drummond de Andrade, entre outros. Ele apresenta boa qualidade sonora e a capa bem conservada. A referência ao seu estado de conservação é pertinente, porque ele foi encontrado no lixo. Realmente, a pessoa que me presenteou com essa obra de valor artístico e literário a recolheu casualmente de um ?container? numa rua de um bairro nobre de Maceió. Curiosamente, um trabalho com o sugestivo título ?Construindo a escrita? ia ser destruído, devido a falta de sensibilidade de alguém que talvez não saiba a diferença entre obra de arte e lixo cultural. Mesmo entendendo que nem todos são obrigados a gostar de poesia, no entanto, é uma atitude estúpida jogar no lixo trabalhos de intelectuais da qualidade de Cecília Meireles, Manoel Bandeira, Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, por exemplo. Por isso, recomenda-se às pessoas que não demonstrem interesse por poesia e que possuam livros, revistas e discos dos nossos poetas, ao invés de jogá-los fora, ofereçam a alguém que goste, doem a bibliotecas ou a escolas. Desse modo, estarão contribuindo para melhorar o aprendizado e o nível cultural de muitos brasileiros, especialmente dos estudantes nordestinos, que apresentam um baixo rendimento escolar comparado ao de alunos de outras regiões do País, na avaliação anual do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Outra prova do fraco desempenho do nosso alunado tivemos recentemente no programa ?Caldeirão do Huck?, da Rede Globo, que não classificou nem um estudante do Nordeste. Afinal, as crianças e os adolescentes precisam cada vez mais ser incentivadas à leitura e ter mais acesso a informação, que também pode ser obtida por intermédio da poesia. (*) É advogado, membro da Academia Maceioense de Letras e da Comissão Alagoana de Folclore.