Opinião
Ensino e afetividade

JOSÉ MEDEIROS * Aí de nós educadores se não sonharmos o sonho impossível. (Paulo Freire) Estatísticas internacionais põem em cheque a educação brasileira. Um dos pontos que têm sido repetido no Exterior é o de que no Brasil apenas 24% da população têm discernimento para compreender e interpretar um texto, uma crônica, um livro. Somos escravos de estatísticas e pesquisas, é certo, mas é difícil acreditar que menos de um quarto da população do País tem capacidade de apreciação, análise e julgamento do que lê. Como não sabemos que critérios foram utilizados para se chegar a essa conclusão, restam dúvidas sobre o assunto. Internamente, há índice educacionais preocupantes: cerca de 18 milhões de brasileiros não são alfabetizados, o que representa uma das maiores taxas de analfabetismo da América Latina. Em nível docente, há, ainda, 12 mil professores espalhados no País que não concluíram a 8ª série do ensino fundamental. Sou um apaixonado pela educação e me junto aos que têm fome de esperança, aos que necessitam acreditar na evolução e aprimoramento do sistema educacional. No setor público há que incentivar a campanha escola-comunidade, para uma participação maior das famílias no dia-a-dia da escola. É comum um prédio público ser depredado e as pessoas assistirem de camarote como se aquilo não lhes dissesse respeito. Faltam giz e apagador? Isso é problema de governo, dizem os que estão à volta. É necessária uma revisão de políticas educacionais e um dos pontos a ser reparado é a remuneração dos professores muitas vezes irrisória e degradante. A estabilidade funcional é indispensável como garantia de desempenho. Em relação à escola alguns pontos merecem reflexão. Apesar de esforços e estudos, metodologias inovadoras, renovação da prática didática, melhor formação dos professores, evidências alertam para o fantasma do fracasso escolar. O aluno continua em destaque como o principal responsável por esses maus resultados, ora culpado, ora vítima, quando outros enfoques merecem ser analisados. Na escola do Século 21 o mérito está em resgatar o aluno e apoiar o professor para que cumpra bem sua tarefa. Os objetivos são bem diferentes do passado: um deles é o desafio em dar conta do triângulo afetivo professor-aluno-saber, que se trava no contexto da sala de aula. Um outro é a reavaliação de ritmos próprios individuais em relação aos grupais. Na opinião de especialistas em educação, para que a aprendizagem seja significativa precisa ter sentido, ser funcional, coerente e clara; é necessário que se estabeleça um vínculo professor-aluno onde ambos façam parte do processo de conhecimento compartilhado. O ideal da educação é que os formadores possam desempenhar papel efetivo e afetivo na formação do aluno-cidadão, crítico e operante, sem perder as características e a identidade que cada um possui. (*) É MÉDICO