O poder triste
| Gilberto de Macedo * O notável escritor franco-argelino, Albert Camus, célebre autor de A Peste, em momento mais agudo da conjuntura política internacional, anos atrás, disse:No século 20, o poder é triste. Triste porque, instituído para assegurar o
Por | Edição do dia 06/09/2007 - Matéria atualizada em 06/09/2007 às 00h00
| Gilberto de Macedo * O notável escritor franco-argelino, Albert Camus, célebre autor de A Peste, em momento mais agudo da conjuntura política internacional, anos atrás, disse:No século 20, o poder é triste. Triste porque, instituído para assegurar o bem-estar da sociedade, tem servido ao contrário, isto é, a manter o mal-estar, em suas diversas modalidades. Tem, assim, fugido aos desígnios de sua finalidade, posicionando-se contra a sociedade. Os noticiários estão aí revelando como, no mundo interno, nacional e internacionalmente, os abusos do poder se fazem acontecer. Esse espetáculo de desvirtuamento, tem levado muitos a ver o poder negativamente. Muitos até com exagero de atitudes manifestadas em comportamento irrazoável, sistemática de índole obsessiva, compulsiva, como é o caso do maior dos anarquistas espanhóis que proclamam: Há governo? Sou contra. É questão do poder, do qual o governo é expressão. Assim, a má governabilidade tem levado ao descrédito social e ético do poder. Isso, evidentemente, não é bom para ninguém, em qualquer nação. Falta governo, sobra desacerto. Distorções administrativas, são denunciadas diariamente, nos países ricos e nos pobres, numa demonstração de falta de competência técnica e ética no desempenho do poder. Por isso, questionar o poder é necessário, tanto mais que o mesmo é representativo, outorgado pelo povo, razão porque se diz público. Se não for assim, não será legítimo, não será social. Deixará de ser da sociedade. Será apenas de um grupo, ou de um só indivíduo. Impostura! Desse modo, o poder tem co-existido, lado a lado, com a injustiça, a violência, a corrupção, e outros males sociais, que marcam o quadro social no mundo inteiro. Frente a frente, o esbanjamento e a miséria, os excessos irresponsáveis e as carências extremas. Tudo isso com a convivência do poder em suas várias modalidades. E pior, isso acontece diante da existência de recursos do progresso tecnológico e dos naturais. Falta sim, a boa consciência e a vontade política que inspirem o poder no cumprimento de sua finalidade. Assim, portanto, o poder continua triste triste porque não é aclamado pela sociedade, mas visto com desconfiança e certa repulsa é preciso questioná-lo para o bem de toda a sociedade, no mundo inteiro. É assim numa democracia, que dá legitimidade ao poder, seu fundamento ético, e que justifica sua legalidade. Enfim, hoje o poder é triste, pois não se acompanha de felicidade, e, portanto, não traz alegria. (*) É médico.