A serena resist�ncia de um sertanejo
| Maurício Corrêa * É de Saint-Beuve a célebre frase de que quando o destino de uma nação está no quarto de uma mulher, o melhor lugar para um historiador é a antecâmara. A via-crúcis pela qual passa o presidente do Senado parece não ter precedência na
Por | Edição do dia 12/09/2007 - Matéria atualizada em 12/09/2007 às 00h00
| Maurício Corrêa * É de Saint-Beuve a célebre frase de que quando o destino de uma nação está no quarto de uma mulher, o melhor lugar para um historiador é a antecâmara. A via-crúcis pela qual passa o presidente do Senado parece não ter precedência na longa história de vida da instituição. Da relação então experimentada, que é da condição humana, irrefreável tormenta desabou sobre seus ombros. De lá para cá, a imprensa, todos os dias, imperdoavelmente, tem noticiado, com manchetes de primeira página, episódios ligados à sua vida particular e pública. É o tributo pago por exercer alto cargo do escalão estatal. Harriette Wilson, uma mulher charmosa, bonita e inteligente, era a mais procurada fornecedora de sexo da Londres do reinado de George 14. Em 1824, com 35 anos, já preocupada com as rugas do tempo, resolveu publicar suas memórias. Entre seus clientes contavam-se condes, duques, marqueses, membros da Câmara dos Comuns e dos Lordes, além de destacados homens de negócio e profissionais liberais. Foi atrás de um livreiro para encarregar-se da publicação das memórias, ajustando com ele que os fascículos seriam editados em série. Acertou que ficaria com percentual remuneratório sobre as vendas. Reservou, contudo, para si própria o grosso do lucro. Viria de um estranho fundo cuja fonte de suprimento se constituiria dos recursos de chantagem armada contra seus clientes. Sem pretender entrar no mérito do que está em apuração no Senado, o que se poderia indagar é se a conduta particular de certos personagens da vida pública nacional resistiria a tão pertinaz, insistente e torrencial campanha. Afinal, quantos não estão respondendo a ações, algumas com acusações graves, perante a Justiça? No entanto, estão aí sorrindo, felizes como se fossem imaculados. Resistiriam à metade da pancadaria que se abateu sobre o presidente do Senado? Ninguém pode negar o papel de extrema relevância que a imprensa desempenha no contexto democrático dos países livres. É salutar que sua atuação continue sendo a de informar a opinião pública. No caso do senador, parece que a exacerbação do noticiário vem cansando a sociedade. A massificação de notícias que tem tido constância irrepreensível começa a enjoar parcelas da sociedade nacional. Ao longo de todo o tempo em que se tornou a notícia número um da mídia nacional, a postura do presidente do Senado tem sido de impecável temperança. Arcou com a responsabilidade de seus atos. Teve a coragem de explicar-se em público. (*) É ex-ministro da Justiça.