Parlamento mais pobre
| Ronald Mendonça * O falecimento precoce e súbito do papagaio Alex deixou o universo acadêmico de luto. Considerado o Einstein da espécie, seu desaparecimento aos 31 anos foi um duro golpe para a humanidade no que tange ao estudo da inteligência dos ani
Por | Edição do dia 15/09/2007 - Matéria atualizada em 15/09/2007 às 00h00
| Ronald Mendonça * O falecimento precoce e súbito do papagaio Alex deixou o universo acadêmico de luto. Considerado o Einstein da espécie, seu desaparecimento aos 31 anos foi um duro golpe para a humanidade no que tange ao estudo da inteligência dos animais. Psitacídeo africano, seu currículo é enriquecido por 30 anos de inestimáveis serviços prestados à pesquisa científica. A sensação de vazio é inevitável. Quando surgirá ave tão bem dotada, é a pergunta que não quer calar. Aves singulares, papagaios sempre ocuparam espaço importante no imaginário de crianças e adultos. Freqüentadores de todo tipo de ambiente, dos salões aristocráticos aos prostíbulos; protagonistas de anedotas, geralmente pornográficas, esses curiosos falantes, por conta da simpatia e do visual exótico, são quase símbolo nacional. Não é à toa que a consagrada figura no ombro do pirata do Ron Montilla ultrapassou os botequins para virar a conhecida expressão metafórica, papagaio de pirata, de conotação nem sempre elogiosa. Adquirido pela psicóloga americana Irene Peppeberg quando ainda tinha um ano de idade, Alex logo se destacaria pela capacidade de aprendizado. A par de objeto de treinamento e estudo, trabalhou em filmes e programas de televisão. Era um autêntico astro hollywoodiano. Famoso mundialmente, biografias não autorizadas estão correndo a internet. Transformado em lenda, a essa altura está difícil delimitar até aonde vai a verdade e começa a fantasia. Anualmente acompanhava sua preceptora em viagens pelo mundo. As vezes que esteve no Brasil ficou encantado com o nosso parlamento. Sempre que podia, ia à Brasília para ouvir os discursos. Mestre da arte de imitar, voltava para a Universidade do Arizona falando igualzinho ao nobre Heráclito Fortes. Seus conhecimentos gramaticais incluíam um acervo de 100 palavras utilizadas com impressionante habilidade. Freqüentador de saraus, tinha redobrada atenção às leituras de textos literários. Eclético, além da trilogia de Henry Miller (Nexus, Plexus e Sexus) apreciava outros gêneros. Era um apaixonado pela civilização romana, particularmente pela figura do cavalo Incitatus (com quem se identificava), içado à condição de senador por ato do imperador Calígula. Alex estava em vias de aprender a contar até o sete. Animal político, quando atingisse esse estágio queria tornar-se cidadão brasileiro e candidatar-se. A morte inopinada privou o parlamento nacional de desfrutar desta rara inteligência. (*) É médico e professor da Ufal.