A trag�dia humana
| Gilberto de Macedo * Trágica é a condição humana. Assim diz-se pela fatalidade do seu destino final. Fatalidade que é da própria natureza. Já se nasce com a pré-determinação de morrer. A alegria do nascimento e a tristeza do falecimento. O poeta Raymo
Por | Edição do dia 20/09/2007 - Matéria atualizada em 20/09/2007 às 00h00
| Gilberto de Macedo * Trágica é a condição humana. Assim diz-se pela fatalidade do seu destino final. Fatalidade que é da própria natureza. Já se nasce com a pré-determinação de morrer. A alegria do nascimento e a tristeza do falecimento. O poeta Raymond Queneau assim enunciava: Deu-me a espécie humana / o direito de ser mortal. Acima de todo saber, e de todo avanço científico e tecnológico, a morte indesejada é inevitável. Sobrepõe-se a todo espaço médico, a toda medida de prevenção das doenças e das técnicas de tratamento, a morte sempre chega como final do itinerário pessoal. A vida humana é, assim, passagem; uma duração limitada, submissa ao tempo físico. Uma transição cronológica. A formação biológica iniciada no espaço intra-uterino, resultado da união de duas moléculas esperma e óvulo forma o embrião que se desenvolve adquirindo forma humana para, vir ao mundo externo, após determinado número de meses. É o nascimento, geralmente comemorado com alegria e esperança. E quando, não acontecem imprevistos, transcorrem as diversas fases da vida, até o fim. É o que todos desejam e esperam. Como expõe o sábio biólogo Jean Rostand: Todas as esperanças são permitidas ao homem, menos a de desaparecer. Assim, dá-se o curso existencial. A infância toda envolvida de inocência e animação. É o início da visão do mundo que se dá pela percepção do ambiente próximo: pessoas e coisas, paisagens e figuras. Acontece a identificação prenunciada das pessoas, a formação dos sentimentos, sobretudo, do amor da mãe e do pai e demais entes familiares. Fase mais importante porque se constitui o padrão íntimo. A criança amada aprende a amar, que o amor, ensina a psicanálise, é a necessidade maior para a formação da personalidade. Forma-se aí o padrão comportamental para toda a vida, inclusive a estrutura da aprendizagem escolar. Depois a adolescência, quando já participa mais do mundo externo, começando a independência e autonomia nas atividades psíquico-afetivas e o delineamento da orientação intelecto-profissional. Em seguida a fase de maturação, fase adulta, quando a personalidade já está terminantemente estruturada e os ideais definidos. Dão-se aí as realizações ou as frustrações. Cabe lembrar Camões: No mar tanta tormenta e tanto dano, / tantas vezes a morte apercebida. Depois, a última etapa, denominada terceira idade quando se dão as paradas das atividades profissionais, e, quando, geralmente, ocorrem às manifestações de variadas doenças. (*) É médico.