De moinhos e ventos
| Eduardo Bomfim * Uma frase do gênio da pintura, Vincent Van Gogh, extraída de uma carta ao seu irmão Theo, dizia: Os moinhos não mais existem, mas o vento continua. Transformou-se em um livro sobre a arte moderna e contemporânea, escrito pelo crítico
Por | Edição do dia 28/09/2007 - Matéria atualizada em 28/09/2007 às 00h00
| Eduardo Bomfim * Uma frase do gênio da pintura, Vincent Van Gogh, extraída de uma carta ao seu irmão Theo, dizia: Os moinhos não mais existem, mas o vento continua. Transformou-se em um livro sobre a arte moderna e contemporânea, escrito pelo crítico e historiador paulista Rodrigo Naves. O imortal artista referia-se à insatisfação popular que sacudia a França no fim do século 19. Talvez, inspirado na imensa quantidade de moinhos da sua terra natal, talvez uma metáfora ao célebre romance de Cervantes, Don Quixote de La Mancha. De qualquer maneira, reflete uma insatisfação sobre as forças poderosas da natureza que não podem ser canalizadas na ausência da serventia dos moinhos. Tomo a liberdade de transplantar a afirmação do pintor para os tempos atuais e em especial à realidade da América Latina e do Brasil. Quer dizer, os ventos das mudanças continuam a soprar, apesar das incursões conservadoras e desestabilizadoras da grande mídia conservadora nas Américas e no País, pautada pela insatisfação dos EUA, em relação aos rumos independentes que vão tomando corpo, com características diversas e particulares a cada nação, em nosso continente. O que assistimos e ouvimos são os clamores da sociedade contra as desigualdades sociais, além de outras chagas abertas, irritada com uma parcela expressiva de parlamentares, deputados e senadores que não representam os seus interesses mais elementares. Vivem engalfinhados em conflitos desprovidos de sentido maior aos interesses nacionais. Celebrizando-se, através dos holofotes potentes dessa mídia citada, pela coisa pequena, do falatório miúdo, pela inutilidade mais absurda. Uma espécie de busca desenfreada pelos quinze minutos de fama a qualquer custo. Contribuem para o desgaste do Congresso Nacional, com o jogo daqueles que procuram fazer acreditar na inutilidade, perante a opinião pública, da democracia representativa. Em última instância, a intenção é bem mais ousada. Trata-se de desacreditar a própria democracia, mesmo limitada, principalmente em relação aos setores populares, aos segmentos da classe média. Importa, tão somente, a democracia para o mercado e os oligopólios midiáticos, impedindo a expressão pluralista, privada ou pública, dos meios de comunicação, ofertando mais informação à Nação, os ventos do progresso, da formação de uma opinião pública consciente, atenta ao governo ou às oposições. Eles sonham mesmo é com furacões e o arbítrio. (*) É advogado.