Calma, Pompeu
| José Maurício Brêda * Não concordo com Roberto Pompeu de Toledo em seu ensaio na Veja acerca de um mês. Como gosto da democracia e do vinho, comparo-a à videira. As melhores são as mais velhas, centenárias, têm raízes profundas em solos pedregosos, c
Por | Edição do dia 02/10/2007 - Matéria atualizada em 02/10/2007 às 00h00
| José Maurício Brêda * Não concordo com Roberto Pompeu de Toledo em seu ensaio na Veja acerca de um mês. Como gosto da democracia e do vinho, comparo-a à videira. As melhores são as mais velhas, centenárias, têm raízes profundas em solos pedregosos, com pouca água, penetram metros e metros para sugá-la, e ao florescerem, às vezes cortam-se algumas folhas para que seus frutos fiquem mais expostos ao sol, e, mesmo assim, não vingando de boa qualidade, podam-se alguns, para que os remanescentes se tornem mais viçosos e potentes e possam produzir bons vinhos. E não é cortando sequer uma de suas raízes, que se vai aprimorá-la. O Senado é uma dessas raízes. Faz parte desta videira. Casa bicentenária, não é agora que se vai tachá-la de inútil e malsã, achando que sua representatividade diluiu-se no sistema brasileiro com a igualdade de três senadores por Estado, simplesmente por uma atitude discricionária para com os menores, quando já existe a Câmara dos Deputados para tê-los representados proporcionalmente. Chamá-la de biônica, por senadores suplentes não serem eleitos, que se mudem as regras do jogo. E aí, lá vem exemplificando com senadores alagoanos, como se a lei transgredindo estivessem. Culpa a absolvição de Renan, pelo mau do clubismo, uma casa pequena onde todos se conhecem bem. Não estou aqui emitindo opinião sobre o último julgamento, mas essa intolerância sulista para com o Nordeste, e principalmente Alagoas, é que precisa ser cortada. Nisso ele não está só. Se, o Senado não cumpre deveres que lhe são específicos, não vai ser fechando-o que vamos aprimorar nossa democracia. E sim protestando pelos meios que ela, democracia, nos dá e que estão à nossa disposição, como este, graças a Deus. Assim como os frutos, nossos políticos estão cada vez mais expostos. Podem-se os ramos, arranquem-se os maus frutos, mas não se corte a raiz. Cuidemos para que esta instituição floresça e nos ajude a manter a democracia em pleno vigor e, como a videira, nos dê bons frutos para que possamos brindá-la, degustando um excelente vinho. (*) É economista.