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Nº 5759
Opinião

República Cantada .

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Por Marcos Davi Melo - médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 10/02/2024 - Matéria atualizada em 10/02/2024 às 04h00

A obra “A República Cantada”, de André Diniz e Diogo Cunha, retrata a história do Brasil - da queda da monarquia ao governo Dilma - através de mais de duzentas canções, grande parte delas associada ao Carnaval, a maior manifestação cultural brasileira.

Hermes de Fonseca foi o primeiro militar eleito e o oitavo presidente da República. Em 1906, recebeu a visita do chanceler alemão Von Reichau. O maxixe, uma música cuja dança era muito sensual e provocativa, predominava também no Carnaval e a banda do Exército, para saudar o circuspecto germânico, interpretou o maxixe “Vem cá, mulata”. Tamanha foi a raiva do presidente que o maestro foi rebaixado para limpar as latrinas do regimento. Depois, Hermes enviuvou e casou com Nair de Teffé, abrandou o coração e convidou Chiquinha Gonzaga para tocar ao violão o seu famoso “Corta Jaca”, no Palácio Guanabara. Razão para ser apelidado de “Dudu Corta Jaca” para o resto de sua vida.

O último presidente da Primeira República, Washington Luís, tinha um estilo diferente dos outros ocupantes do Catete: era boêmio, divertido, entoava óperas, mas também marchinhas de Carnaval e gostava de futebol. Não perdia um baile carnavalesco. O compositor Eduardo Souto satirizou-o na música de Carnaval “Ele é paulista? É, sim senhor/ Falsificado?/ É, sim senhor/ Cabra farrista?/ É sim senhor”. No Carnaval de 1929, o presidente folião se esbaldou ao som da marcha “Sou da fuzarca”, de Vantuil de Carvalho, o que lhe deu o apelido de “Rei da Fuzarca”.

Mas foi o Barão do Rio Branco, herói nacional, quem causou maior impacto, pois morreu em 10 de fevereiro de 1912, um sábado, quando faltava exatamente uma semana para o Carnaval. O Brasil caiu em luto. Na capital da República, o Rio de Janeiro, uma multidão chorosa fez fila no Palácio para ver seu corpo e acompanhou o caixão até o Cemitério do Caju.

Dada a comoção generalizada, os clubes suspenderam os bailes de Carnaval, que foram transferidos para a Páscoa, 40 dias depois. O governo federal idem. Mas quando chegou o sábado de Carnaval, os foliões acharam que uma semana de luto fechado já era suficiente e caíram na folia. E na Páscoa, os clubes abriram seus salões para os bailes carnavalescos e os foliões fizeram nas ruas s sua segunda folia. Depois disso, só a pandemia conseguiu suspender a festa de Momo. Afinal, não tinha como ter nem um, muito menos dois. É o país do Carnaval!

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