Opinião
Carta a Bush

DOM EDVALDO G. AMARAL * Foi divulgada, na rede mundial de computadores, uma carta ao presidente dos Estados Unidos, que me parece útil ser levada ao conhecimento de meus 25 leitores da GAZETA. A carta foi escrita por Robert Bowman, veterano do Vietnã, onde realizou 101 missões aéreas de combate, e atualmente é bispo da Igreja Católica Unida em Melbourne Beach, na Flórida. Eis alguns de seus trechos mais significativos: Senhor presidente: Conte a verdade ao povo americano sobre terrorismo. Se as ilusões acerca do terrorismo não forem desfeitas, então a ameaça continuará até nos destruir completamente. Como tenente-coronel reformado e freqüente conferencista sobre assuntos de segurança nacional, sempre cito o salmo 33: O rei não é salvo por seu poderoso exército, nem o guerreiro por sua enorme força. Sr. Presidente, o senhor não contou a verdade ao povo americano sobre o porquê de sermos alvo do terrorismo, nem quando explicou por que iríamos bombardearo Afeganistão. O senhor disse que somos alvo do terrorismo porquedefendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos no mundo. Que absurdo, Sr. Presidente! Somos alvo dos terroristas porque na maior parte do mundo nosso governo defendeu a escravidão e a exploração humana. Por isso, somos odiados. E somos odiados porque nosso governo fez coisas odiosas. Agentes do nosso governo depuseram líderes popularmente eleitos, substituindo-os por militares ditadores, marionetes desejosas de vender seu próprio povo a corporações americanas multinacionais. E o tenente-coronel Bowman cita os exemplos do Irã, do Chile, do Vietnã, do Iraque, da Nicarágua e outras repúblicas da América Latina. E continua, cada trecho mais impressionante: De país em país, nosso governo obstruiu a democracia, sufocou a liberdade e pisoteou os direitos humanos. É por isso que somos odiados ao redor do mundo. É por isso que somos alvo dos terroristas. Não somos odiados porque praticamos a democracia. Somos odiados porque nosso governo nega isso aos povos dos países do Terceiro Mundo, cujos recursos são cobiçados por nossas multinacionais. E continua veemente: Precisamos mudar nossas práticas. Alterar drasticamente nossa política externa. Em vez de enviar nossos filhos ao redor do mundo para matar árabes para que possamos ter o petróleo que existe sob suas areias, deveríamos mandá-los para reconstruir sua infra-estru-tura, fornecer água limpa e alimentar suas crianças famintas. Em vez de treinar terroristas e esquadrões da morte, deveríamos fechar a Escola das Américas. Em vez de sustentar a revolta, a desestabilização, o assassínio e o terror ao redor do mundo, deve-ríamos abolir a CIA e dar o dinheiro gasto por ela a agências de assistência. Enfim, deveríamos ser bons em vez de maus. Quem iria tentar nos deter? Quem iria nos odiar? Quem iria querer bombardear-nos? E conclui: Esta é a verdade, Sr. Presidente. É isso que o povo americano precisa ouvir. Não vou dizer que tudo o que afirma acima o coronel-bispo seja verdade. Digo apenas que é um corajoso convite à reflexão sobre as verdadeiras causas do terrorismo internacional e do ódio generalizado contra o governo americano ao redor do mundo. (*) É ARCEBISPO METROPOLITANO DE MACEIÓ