| Cônego Henrique Soares * Para a Igreja, estamos ainda no tempo do Natal. São cinco festas – como já tive ocasião de recordar neste espaço quinzenal – que compõem este tempo: Natividade, Sagrada Família, Santa Maria Mãe de Deus, Epifania (Festa de Reis) e Batismo do Senhor. Nas cinco, com tonalidades diversas, a Igreja compõe a aquarela que celebra o grande mistério: por amor, Deus se manifestou em nossa carne mortal, entrou no nosso mundo, assumiu a nossa vida, misturou-se com nossa história humana e com nossas pequenas histórias individuais para nos salvar. Domingo agora findaremos o período natalino com a Festa do Batismo do Senhor. Podemos tirar dela lições preciosas. Recordo apenas algumas: (1) Jesus, sem pecado, entra na fila dos pecadores que vão receber o batismo de João. Assim, deixa claro o que vem fazer: assumir nossos pecados, fazer-se solidário conosco. Toma sobre si toda a miséria humana e a redime na cruz com amor. Deus salva humildemente, Deus salva entrando na fila, fazendo-se solidário conosco! (2) Neste ato de humilhação já está anunciada a própria cruz: ele desce às águas e sobe, ungido pelo espírito do Pai, como descerá às profundas águas da morte e subirá ressuscitado, pleno do espírito do Pai. Àquele que se fez obediente até a morte, o Pai o glorificou e o ungiu com Espírito Santo e com poder! (3) Ao ser batizado, o Pai unge Jesus com o Espírito Santo e o apresenta com as palavras que, em Isaías 42,1, referem-se ao servo sofredor. Jesus será um Messias humilde, pobre, que humanamente fracassará e divinamente triunfará por se ter entregado por amor. O sucesso do ponto de vista humano não é critério válido para o reino de Deus! Este é o caminho; caminho que a Igreja toda e cada um de nós tem que aprender... (4) O espírito paira sobre Jesus na forma de uma pomba. É uma referência a Gn 8: como uma pomba trazendo um ramo de oliveira (da qual se faz o óleo para a unção) anunciou o fim do dilúvio e o começo de um mundo novo saído das águas. Fica claro, portanto: Deus salva amando, Deus salva colocando-se na fila e, humildemente, assumindo nossa humana miséria. Deus salva renovando todas as coisas. No mundo barulhento destes nossos dias, mundo disperso e dispersivo, mundo do ativismo e do consumismo, não é fácil perceber e aceitar um Deus assim. Mas, este é o único Deus verdadeiro. Compreendê-lo exige de nós um constante caminho de conversão. Esta é uma das mensagens mais importantes deste findante tempo de Natal. (*) É sacerdote e professor de Teologia.