app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 5790
Opinião

Taturanas engravatadas

| Eduardo Tavares Mendes * A Operação Taturana serviu não só para pôr sob grave suspeição conhecidos parlamentares que, supostamente, surrupiaram os cofres da Assembléia Legislativa de Alagoas, como também para mostrar como, em virtude de uma (de)formaçã

Por | Edição do dia 13/01/2008 - Matéria atualizada em 13/01/2008 às 00h00

| Eduardo Tavares Mendes * A Operação Taturana serviu não só para pôr sob grave suspeição conhecidos parlamentares que, supostamente, surrupiaram os cofres da Assembléia Legislativa de Alagoas, como também para mostrar como, em virtude de uma (de)formação histórica calcada no princípio do conformismo, o povo alagoano é dado a aceitar situações absurdas de desmandos e abusos da classe política com tolerância e resignação. Nesse sentido, por exemplo, nada mais ridículo do que as propostas de criação de uma frente social representativa com a finalidade de acompanhar a malsinada auditoria feita pela mesa diretora da Assembléia em suas próprias contas. Será que – e esta é a pergunta que não quer calar – depois de minuciosa investigação feita pela Polícia Federal nas folhas de pagamento do Poder Legislativo estadual, quando o saldo da propalada rapinagem aparece estimado na casa dos 280 milhões de reais (quantia elevada até mesmo para os alarmantes padrões de corrupção da política local), faz-se ainda necessário o acompanhamento, por parte da sociedade civil organizada, da “auditoria” instalada nas contas da Casa de Tavares Bastos pelas mesmas personalidades envolvidas neste que pode ser considerado o maior escândalo financeiro do Estado? O povo alagoano, apesar de sua paciência, em verdade ainda se encontra fortemente impactado pelo resultado das investigações da Polícia Federal, reunidas na operação batizada com o sugestivo nome de “Taturana”. Mas, somente o povo, somente a sociedade organizada pode realmente exigir um resultado imediato e à altura da gravidade da situação: o afastamento de cada parlamentar envolvido com a fraude até que se apure a verdade dos fatos. Afora isso, a solução é esperar que as instituições ajam, cada uma dentro de sua esfera de atribuições. Tudo ocorrerá no seu devido tempo. Caberá ao Ministério Público, que representa hoje uma das poucas esperanças do povo sofrido deste Brasil espoliado, perseguir os infratores e responsabilizá-los na área civil, política, administrativa e penal. O grande esforço deverá concentrar-se agora na análise das provas recolhidas, e, digo eu, na plena identificação daqueles acusados que deixaram, sem querer, suas impressões digitais nas “folhas podres” da contabilidade da Assembléia Legislativa e nas fraudes perpetradas contra os interesses da Receita Federal. Aliás, não seria ocioso lembrar que, em Chicago, nos Estados Unidos, o mafioso “Al Capone”, depois de tantas peripécias delituosas, só foi julgado e condenado pelos golpes praticados contra o Imposto de Renda. Promotores e procuradores de justiça estão em estado de alerta e prontos para enfrentar mais este desafio em defesa do patrimônio e da honra da gente desta terra que a cada dia “maior e mais forte nos faz”. Essa é a missão do Ministério Público, alçado pela Constituição cidadã à titularidade da defesa dos interesses sociais. Não é à toa que muitos políticos profissionais se insurgem contra a atuação dessa instituição que tem sido um baluarte do Estado Democrático de Direito, pois, não raro, eles agem, em pleno século 21, sob a égide de um obscurantismo medieval, da prepotência e do descaso, locupletando-se do erário e enganando sistematicamente a sociedade que neles confiou e, em nosso caso, a tudo tem assistido em silêncio – infelizmente. Vê-se que o Ministério Público, fiscal da lei, tem a sua atuação pautada pelas normas do direito positivo, que lhe dá legitimidade. Diferentemente de alguns organismos que trabalham com a perspectiva político-eleitoral, o Ministério público age sob o influxo da lógica jurídica; para uns, o discurso fácil; para nós, o íngreme caminho da lei e da constituição. Alagoas pode confiar no seu Ministério Público, que não lhe faltará nesta hora amarga – como nunca lhe faltou. Vamos cumprir nossa missão em sinergia com a polícia judiciária e com os órgãos de controle interno e externo do Poder legislativo, promovendo as ações judiciais imprescindíveis à reparação dos danos causados ao povo por essas taturanas engravatadas. O povo alagoano é tolerante e paciente, mas é também honrado e saberá ser inclemente com esses maus políticos. (*) É presidente da Associação do Ministério Público de Alagoas e professor de Direito Penal.

Mais matérias
desta edição