Para al�m do horizonte
| Anilda Leão * Eu, que já nem me considero mais tanto da terra, avisto daqui da beira-mar de Cruz das Almas, onde me plantei entre os coqueirais, a chegada de mais um ano. A forte ventania, o sussurrar das ondas que batem na praia, parece trazer ao m
Por | Edição do dia 17/01/2008 - Matéria atualizada em 17/01/2008 às 00h00
| Anilda Leão * Eu, que já nem me considero mais tanto da terra, avisto daqui da beira-mar de Cruz das Almas, onde me plantei entre os coqueirais, a chegada de mais um ano. A forte ventania, o sussurrar das ondas que batem na praia, parece trazer ao meu espírito atento aquela paz tão desejada. E o colorido das luzes, espoucando por trás das folhagens revoltas das palmáceas, revela uma paisagem tão cheia de magia que faz o meu coração acelerar e bater ainda mais forte. Para mim, o nascer de um novo ano é sempre um momento inusitado de grande emoção e expectativa. Que venha 2008! Com suas alegrias e esperanças, tristezas e mágoas, lágrimas e sorrisos, lutas e decepções. Que a vida é assim mesmo. Que o mundo é para ser vivido dessa maneira, ninguém se iluda. Se assim não fosse, já outro planeta estaríamos habitando nós, muito além da nossa tibieza, de nossa ignorância, das nossas imperfeições. Aqui onde estou, já nem sou mais da terra, pois o mar, a areia branca e as ondas rumorejantes que atiram em meus pés pequenas conchas e restos de plantas marinhas, trazem-me uma paz que pouco se pode encontrar no mundo de hoje. É que de tal modo me abstraio ao ouvir a música que vem lá do horizonte, que até me esqueço do rugido das feras que se entredevoram na selva humana de onde me abstraí há pouco. Que venha, pois, o novo ano, pois nunca é demais, para mim que sou adepta do pensamento positivo, desejar que haja mais amor, mais paz, mais fraternidade entre os homens. Nunca é demais, pois o nosso poder mental, se bem utilizado, é capaz de operar milagres Mas é mister que haja uma grande dose de boa vontade para que essa força do nosso espírito possa chegar até o Criador. O que não é assim tão fácil como pode parecer, perdulários e materialistas que somos na grande maioria. Quando todos souberem se ajudar mutuamente, quando todos se apertarem as mãos num gesto amigo, quando todos resolverem pensar mais no próximo que em si mesmos, talvez possamos viver em um mundo mais puro. Mais sadio e mais justo. Enquanto não chega esse momento mágico, vou construindo o meu mundo aqui mesmo, pacientemente, até a hora em que serei chamada a habitar um planeta mais sadio e pleno de amor. Pelo menos para mim, já é tempo de esperar pela promessa que ouvi há tanto tempo naquela música que diz que um dia, todos nós seremos anjos. (*) É escritora e poeta.