Quem � o culpado?
| Lysette Lyra * Ao abrir ontem a Gazeta, deparei-me, atônita, com a notícia do assalto sofrido pelo jovem Gama Jr.. Levara um tiro na testa ocasionado por um marginal, quando se encontrava executando, pacificamente, seu ofício de fotografo, num dos bair
Por | Edição do dia 22/01/2008 - Matéria atualizada em 22/01/2008 às 00h00
| Lysette Lyra * Ao abrir ontem a Gazeta, deparei-me, atônita, com a notícia do assalto sofrido pelo jovem Gama Jr.. Levara um tiro na testa ocasionado por um marginal, quando se encontrava executando, pacificamente, seu ofício de fotografo, num dos bairros perimetrais de Maceió. O modelo conseguiu fugir ileso, mas ele tivera sua câmara fotográfica roubada e, sem explicação, jazia no chão ferido, com um fio de sangue a escorrer-lhe pelo rosto. Ainda trazia, na face, a expressão de surpresa e descrédito do ocorrido, quando algumas pessoas o socorreram, levando-o ao Hospital de Pronto Socorro. Num instante Maceió foi sacudida pela comiseração, pois quem o conhecia sabia tratar-se de um rapaz calmo, predestinado para a arte, preparado com dedicação nos ateliês de São Paulo e de Paris. Viera a Maceió passar as festas com a família, sem poder jamais imaginar o que lhe reservava o destino. Será que foi mesmo o destino, que o arrastou a essa trágica ocorrência? Se ele estivesse em uma cidade onde o policiamento fosse severo; a impunidade não fosse uma constante; se as autoridades trocassem seus próprios interesses por olhar e corrigir os erros que tramitam no cotidiano da cidade; se as leis, em nosso País, não fossem tão frouxas; as prisões tão frágeis; os policiais tão mal pagos; a burocracia imperdoável; o destino não interferiria dessa maneira na existência das inúmeras vítimas dos crimes ultimamente acontecidos em nosso meio. Como pode um Estado viver com sua Polícia Civil em greve por seis meses? Por que não há um consenso entre governo e chefaturas para acabar com essa paralisação? Afinal tantas classes públicas são regiamente pagas, por que não um soldado que arrisca sua vida na guarda da população? Sem contar com o mau aparelhamento dos quartéis que nem sequer contam com viaturas suficientes e em condições para atender as demandas? Se houvesse empregos, se a educação fosse realmente para todos, e não uma balela eleitoreira, não existiria tantos marginais. Estamos sempre sendo cobrados por tributos, mas nada nos é dado em troca. Nem mais temos direito de viver em paz! Gostaria de escrever sobre as coisas belas da vida, mas já não conseguimos a serenidade necessária para apreciá-las convenientemente. Ah! Que saudades dos dias tranqüilos de antigamente, quando se andava pelas ruas de Maceió sem o estigma da violência a sombrear nossas passadas; entrar e sair de casa sem os cuidados para não ser abordados por um marginal apontando o revólver para roubar não só nossos pertences, mas a nossa vida! (*) É escritora.