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Nº 5792
Opinião

Palco iluminado

| Ronald Mendonça * Confortante e humanitária concepção do espiritismo assegura que a morte do corpo, a desencarnação, não deveria receber tantas lamentações dos entes queridos. Nessa visão, o espírito estaria em processo contínuo de aprimoramento, neces

Por | Edição do dia 26/01/2008 - Matéria atualizada em 26/01/2008 às 00h00

| Ronald Mendonça * Confortante e humanitária concepção do espiritismo assegura que a morte do corpo, a desencarnação, não deveria receber tantas lamentações dos entes queridos. Nessa visão, o espírito estaria em processo contínuo de aprimoramento, necessitando de novas e sucessivas reencarnações até que, purgadas todas as culpas de erros e omissões passadas, alcance a perfeição e possa dela gozar em toda sua plenitude no paraíso celestial. Neste caminhar, a morte cumpre papel fundamental. Distanciada das convicções kardecistas, boa parte da humanidade ainda continua a comover-se com notícias fúnebres. Há poucos dias, a mídia pôs em destaque a morte do jovem ator australiano Heath Ledger atribuída a suposta overdose. Triste, como tantas outras tragédias envolvendo jovens e drogas, a morte do ator, longe da exceção, abre velhas feridas. Não é de hoje que o fascínio por substâncias proibidas ronda a ribalta. Para muitos, o abuso do absinto, comum entre intelectuais e artistas no início do século 20, teria sido o móvel que detonou o grande Oscar Wilde. Entre nós, o estrago não é menor. Num inesquecível janeiro do século passado, a notícia da morte de Elis Regina, uma das maiores intérpretes brasileiras, comoveria o País. Para os mortais comuns, tão surpreendente e doloroso quanto o falecimento, foi a divulgação de que a irrequieta gaúcha era consumidora habitual de drogas. Ferida pela seta da morte no esplendor do seu vôo, Elis Regina, como tantos outros, por conta das loucuras do consumismo estimulado pela mídia, corre o risco de não ser lembrada do modo que merece. Por isso, a recepção calorosa a dois filmes tratando, respectivamente, da vida de Noel Rosa e Edith Piaf. Se viventes, certamente Noel e Piaf dispensariam os comentários desse suburbano. Como mero consumidor de cinema, penso que as obras cumpriram seus papéis. Noel, um quase colega médico, carregava no sangue o gosto pela boemia, que só não era maior do que seu extraordinário talento. O perfil caricatural, deformado por trauma de parto, talvez tenha sido a origem da proverbial timidez, dominada a duras penas pelo irrefreável impulso de consumo de álcool. O “Pequeno Pardal”, o “Rouxinol da França”, a “Cigana Esmeralda”, foram algumas denominações que batizaram a voz possante de Edith Piaf. Agradou a todos, boêmios, liberais, radicais e comunistas. Até os fascistas mais cruéis deixaram-se embalar pela sua música maravilhosa. (*) É médico e professor da Ufal.

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