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terça-feira, 24/06/2025 | Ano | Nº 5995
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A vida em até doze poses .

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Por onde anda a alegria no retrato, a lembrança mais que perfeita da saudade, o louvor da recordação, o suspiro do bom momento (…)?

O contentamento era simbolizado pelo pouco, materializado em atos, gestos, ações … nem sempre sonetos ou objetos de retratos.

A fotografia providencia possibilidades de representação de imagens ou as imagens são fornecidas sem representação. Estamos nesta última - segunda hipótese -, sem que, quiçá, seja a derradeira solução.

Faz falta! A vida já se encontra desfigurada e inundada de fotografias (que não revelam imagens, mas denunciam distorcidas e incompletas poses).

Puseram-nos muito além da simples Kodak, rompendo os iniciais sonhos de George Eastman. Reproduzir os bons momentos circunstanciais, para além dos estáticos personagens (e imagens) dos principiantes daguerreótipos, propulsou entre nós as “duas colunas máximas da opinião” (BRÁS CUBAS).

Que se dirá de um mundo sem “a estigma dos graves e o amor dos frívolos”? Os retratos acolhiam opiniões, paralelas e proporcionais ao reduzido número de revelações. Destinavam-se a exprimir, destoantes de confessados anúncios.

Foi-se o tempo (…) de uma só - e unilateral - crítica externa. A própria (atualizada por quem teria por justo fazê-la), ao personagem não se lhe concedia - só se rasgasse o retrato, destruindo-o e levando junto “as duas colunas máximas da opinião”.

Ultrapassamos as 12 poses, a moldura das fotografias espalhadas em 3x4: até em miniatura (uma só, sem a estampa do quadro das fotografias). Éramos felizes!

Parece que a felicidade não pode ser perene. É pecado! Foto única, se ou não alegre, expira, embora se mantenha a extremidade da precisão.

E por que diabos se criou esse instrumento que não interrompe o “instantâneo”, liberando toda sorte de ares, postes, figuras e gestos, tudo quase sempre triste, mesmo que camufladas em sorrisos disfarçados por detrás das “fotos” ou “selfies” ou “histories” (…). Foto sem “negativo”.

Mas que peleja braba essa de escolher, dentre trinta, uma só; às dezenas, uma só; se só uma, nenhuma, porque uma não é o bastante pra “prestar”.

Com a alforria do interminável, a imprecisão galopa e nunca haverá um verdadeiro retrato.

Devolva-nos as “kodaks”. A vida não pode passar de doze poses.

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