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O casamento matuto

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| LUIZ BARROSO FILHO * Apesar das inovações pelas quais vêm passando algumas expressões dos festejos de São João, o casamento matuto, ou casamento caipira, como é conhecido em outras regiões, ainda mantém as características tradicionais. Ele se realiza sempre antes da exibição da quadrilha, conhecida contra-dança de origem francesa, e o seu ritual é motivo de hilaridade para os expectadores, pela forma como é celebrado. Geralmente são escolhidos entre os participantes da própria quadrilha, aqueles mais descontraídos, para encarnarem as figuras dos noivos e do padre, que, com apelidos sugestivos, comportando-se de modo informal, chamam a atenção das pessoas, fazendo piadas e satirizando o casamento religioso celebrado pela igreja católica. Além dos noivos e do padre, outras figuras participam do casamento matuto, tais como: o delegado de polícia, os pais dos noivos e os padrinhos. O arraial é o melhor local para a sua realização e lá, na hora marcada, a cerimônia começa com a chegada da noiva montada numa carroça puxada a burro, às vezes, já acompanhada do noivo. Verifica-se ainda a presença de uma banda de pífanos ou de um trio de forró pé-de-serra, composto de sanfona, zabumba e triângulo, acompanhando o cortejo. Durante a celebração ocorrem cenas bem-humoradas provocadas pelos próprios personagens. O delegado, por exemplo, fica pressionando o noivo, que também sofre ameaças do pai da noiva, tendo em vista a gravidez antecipada da filha, que não pode ficar ?desonrada?. A cerimônia termina depois que o vigário saúda os noivos, desejando-lhes muitos filhos. Então, os presentes se manifestam com aplausos e em coro exclamam: ?Viva!?. O casamento matuto, em Alagoas, é uma sátira ao casamento religioso celebrado antigamente em algumas localidades pobres do interior do Nordeste, onde se observava os noivos se deslocarem de suas residências (sítios e fazendas), até a igreja mais próxima, montados nos lombos de burros, de jegues ou de cavalos, trajados a caráter, ou seja, o noivo com a sua melhor roupa e a noiva usando o tradicional vestido branco com véu e grinalda. Trata-se, portanto, de um folguedo que está definitivamente incorporado às festas juninas em Alagoas, e, por ser uma dramatização com cenário, enredo, personagens e intérpretes, pode ser considerado um auto profano no ciclo de uma festa religiosa. (*) É advogado, membro da Comissão Alagoana de Folclore e da Academia Maceioense de Letras.

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