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Nº 5899
Opinião

A hora do quepe

| RONALD MENDONÇA * As recorrentes chacinas em Arapiraca são o retrato do alarmante clima de disputa pelo controle do poder no submundo do crime em Alagoas. Na realidade, aqui nunca foi um mar de rosas. Oligárquico por excelência, entre nós, historicamen

Por | Edição do dia 06/09/2008 - Matéria atualizada em 06/09/2008 às 00h00

| RONALD MENDONÇA * As recorrentes chacinas em Arapiraca são o retrato do alarmante clima de disputa pelo controle do poder no submundo do crime em Alagoas. Na realidade, aqui nunca foi um mar de rosas. Oligárquico por excelência, entre nós, historicamente, a preservação do poder foi exercido pela coação física, explícita ou disfarçada, alimentada pelas classes econômicas dominantes. Até meados do século passado, por exemplo, o poder foi centrado nas mãos de poucas famílias, cujos irmãos revezavam-se. Eventualmente, alguém de fora se aboletava. Fernandes Lima e Costa Rego, ex-governadores, são espécimes dessas aparentes fissuras nas oligarquias. Lembro da infância, quando se ouvia falar no “Sindicato do Crime”, integrado por figuras “ilibadas” da sociedade alagoana, cujas ramificações estendiam-se além das fronteiras. Fantasia ou não, todo crime mais ou menos misterioso, dizia-se, teria mando ou aval no famigerado sindicato. Depois veio a onda dos “justiceiros”, que “livrariam” temporariamente Alagoas dos assaltantes de rua e ladrões de cavalo. Época das Alagoas “filé do Nordeste”. Nesses tempos de triste memória, ungidos policiais, assessorados por algumas famílias tradicionais, juntavam os amigos em bares temáticos para narrar como tinham “despachado” fulanos e beltranos. Havia até olímpica disputa para saber quem matava mais, se o tenente ou o agente. A fase do coronel Cavalcante e da gangue fardada sucedeu com sobras. De fato, a onda de violência, assaltos e terror que se instalou – sob as asas do poder – foi de tal sorte que os saudosistas tiveram acessos de nostalgia dos tempos do “filé do Nordeste”. Irmã gêmea da violência, a corrupção atingiria níveis estratosféricos nos recentes anos. Com efeito, uma despretensiosa croniqueta seria insuficiente para enumerar a turma de ex-secretários e políticos suspeitos de encheram os bolsos roubando do Estado. Nessa rota, Alagoas não é estrela radiosa, muito menos solitária. Hoje, se já não bastassem os escândalos envolvendo ministros e familiares do presidente, o País caminha célere para um stalinista “Estado policial e fiscal”, comandados respectivamente pela Polícia federal, Abin e Receita Federal. Contudo, em todo esse imbróglio de escutas telefônicas clandestinas o “non sense” é a postura do general chefe da Agência de Segurança. Inseguro, reticente, não obstante posudo e irônico, alguém aí precisa avisá-lo de que está na hora de pedir o quepe e picar a mula. (*) É médico e professor da Ufal.

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