De Ibrahim a Maria C�ndida
| MARCOS DAVI MELO * Quando aquele grupo de intelectuais e boêmios cariocas se reuniu para deliberar quem seria o primeiro entrevistado do jornal que as suas privilegiadas cucas engendravam, por mais que tomassem litros e litros de uísque, não chegaram a
Por | Edição do dia 06/09/2008 - Matéria atualizada em 06/09/2008 às 00h00
| MARCOS DAVI MELO * Quando aquele grupo de intelectuais e boêmios cariocas se reuniu para deliberar quem seria o primeiro entrevistado do jornal que as suas privilegiadas cucas engendravam, por mais que tomassem litros e litros de uísque, não chegaram a um consenso. Foi preciso que um mais lúcido, pedisse a interrupção da ágape que ameaçava se transformar em confronto e pedisse que a reunião fosse interrompida para que dormissem, tirassem a ressaca e lúcidos, voltassem a se reunir para resolver a importante questão. O grupo de intelectuais consumidores do malte escocês supracitado, era constituído entre outros por: Millôr Fernandes, Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral (o pai!), Claudius, entre outros na afinal, custosa primeira entrevista do primeiro número do jornal semanal que viria a ser um furor entre a intelectualidade, a juventude universitária brasileira de então; O Pasquim. E, afinal, quem foi o primeiro entrevistado, ganhando de notórias figuras públicas? Simplesmente, Ibrahim Sued, o controvertido colunista social carioca. A primeira edição do Pasquim foi publicada em junho de 1969 e lá estava como atração maior a reveladora entrevista com Ibrahim; onde Sued entre uma pergunta e outra disse: A minha grande penetração na classe C deve-se a que as pessoas se interessam tanto por notícias sérias, como pelo mundo que elas não alcançam. Sobre as suas monumentais e repetitivas gafes: Eu dou as minhas tropeçadas na televisão sim. Dizem que eu industrializei as tropeçadas. Quem tem obrigação de não dar tropeçadas são os locutores e eles dão! Agora a verdade é que tem muita gente que torce para eu tropeçar e tem dias que eu faço a vontade deles. Dou uma tropeçada e eles vão dormir satisfeitos. Meu primeiro contato com a jornalista Maria Cândida foi profissional há cerca de 25 anos atrás. Acometida por um câncer de mama, foi operada pelo saudoso colega Úlpio Miranda e me procurou para fazer as suas seções de radioterapia na Santa Casa. Outra pessoa que já fosse portadora de uma patologia desconfortável, se sentiria extremamente mal, mas ela a enfrentou com bravura e coragem, como tudo o que fez na sua vida. Lembro-me bem que a morte de sua mãe a abalou muito mais do que a sua doença, da qual, afinal, logrou cura total. Mulher corajosa, todavia, sensível, ficava ansiosa nas vésperas de suas festas. Nestes poucos mais de 25 anos que tive o privilégio de acompanhá-la, convivi com uma pessoa que fazia de sua fragilidade a sua força, renovando-se diariamente no mister de mostrar para os outros, este, que é sempre uma incógnita: o ser humano. (*) É médico e professor da Uncisal.