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Nº 5905
Opinião

Roda

| WAGNER WILLIAMS * Quando a roda foi inventada (6.000 a.C.), os homens se convenceram de que, com ela, iriam muito longe. O hoje mostra que nem tanto. É que, para progredirmos, cumpre romper com a dependência da roda. Deveras o maior invento fundamenta

Por | Edição do dia 18/09/2008 - Matéria atualizada em 18/09/2008 às 00h00

| WAGNER WILLIAMS * Quando a roda foi inventada (6.000 a.C.), os homens se convenceram de que, com ela, iriam muito longe. O hoje mostra que nem tanto. É que, para progredirmos, cumpre romper com a dependência da roda. Deveras o maior invento fundamental dos homens lhes acrescentou uns anos a mais de vida. Talvez com isso a idéia de “rodear” figurou-se no inconsciente coletivo de gerações ulteriores. O vivíssimo clichê “tudo acaba em pizza” parece evidenciar essa hipótese, já que sugere fatos que “rodam, rodam” e se encerram com uma situação igual ou melhor que a de antes de “rodarem”. A Polícia Federal que nos diga. E os autores do sumiço dos 280 milhões de reais na Assembléia Legislativa mais ainda! A idéia de roda também está no anexim “andar em círculos” que o Tribunal de Contas de Alagoas nos fez sentir, ao eleger como seu conselheiro um indiciado na Taturana. Analogamente, o fato de constarem na candidatura eleitoral nomes impugnados dos fichas sujas faz o eleitor divagar que, em matéria de crivo democrático, estamos andando para trás (e em círculos). Outrossim, nestas paragens, as operações policiais que exigem o afã das estratégias e das investigações, mais a mobilização de militares, armamentos, veículos, combustíveis e a cooperação popular, tombam na invalidez quando o Judiciário libera um vilão qualquer ou toda uma quadrilha de ricos. É, de fato, um roda-roda para o mesmo ponto. Ao mesmo tempo em que aquela figura geométrica acrescentou mais anos ao homem, ela também fez o próprio envelhecer mais rápido com as tensões deste trânsito. Maceió, dependente quase que unicamente do meio de transporte rodoviário, volta e meia estanca os carros nas avenidas estritas – muitas vezes por ver inaugurar um supermercado ou por terem atropelado um sapo. A classe média baixa, dependente do coletivo, é sempre vítima (do desrespeito) de conflitos que ela nada tem a ver, quer entre sindicato e rodoviários, quer entre a prefeitura e empresas de ônibus. Se aqui houvesse metrô e adequado transporte fluvial, a roda (o pneu) não seria mais a dona da vez. Veneração traz dependência. E veneramos, dependemos tanto da roda até o ponto de parecermos primitivos – raça atrasada diante de um extraterrestre, como crêem os ufólogos. Nossa vida gira em torno da roda. Gira tanto que tonteia; tonteia tanto que confunde; confusos, nós às vezes, nesses tempos difíceis por que passa Alagoas, ao invés de fazermos o óbvio, fazemos o absurdo. (*) É estudante de Letras da Ufal.

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