Cultura
A emoção do Carnaval

Por duas vezes, as autoridades nacionais tentaram mudar a época do Carnaval: a primeira foi em 1892, quando o Ministério do Interior em uma reunião entre quatro paredes e sem a participação de representantes do povo, resolveu transferir os Festejos de MOMO para junho daquele ano. A justificativa até que era plausível: em fevereiro o calor era grande e em junho o clima sempre era mais ameno e a festa seria mais “saudável”.
Feita essa acaciana apreciação, o governo decretou em clima de vitoriosa decisão a transferência oficial do Carnaval para junho daquele ano. Os que desprezavam o festejo nem se interessaram, mas os foliões não acataram a medida governamental e viram no decreto uma oportunidade de brincar duas vezes: fizeram seu carnaval em fevereiro e um outro carnaval em junho.
Em 1912, de alguma forma o fato se repetiu: acontece que o ministro das Relações Exteriores, José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco - que era muito apreciado pelo povo, pois ganhara para o Brasil o Amapá e parte relevante do atual sul do país - faleceu uma semana antes do Carnaval. Diante do clima de comoção nacional (manifestado no monumental enterro Barão, onde o clima de imensa tristeza e choro coletivo preponderou), o governo suspendeu o festejo e determinou a mudança da folia para 6 de abril.
Os foliões, todavia, acharam que já tinham chorado o suficiente e uma semana depois do enterro do Barão do Rio Branco resolveram comemorar o Carnaval, mas voltaram à folia em abril, de acordo com as determinações do governo. Depois disso, nunca mais alguém tentou mudar a data da festa, que continua sendo pagã, porém determinada pelo calendário cristão.
Getúlio Vargas era apaixonado pelas marchinhas, sendo “As pastorinhas” a sua preferida. O popular presidente Washington Luiz era apelidado de “Rei da Fuzarca”, o que dispensa maiores explicações. O presidente Itamar Franco foi flagrado no camarote num desfile de Escolas de Samba com uma moça desprovida de roupa íntima. A marchinha “Mamãe eu quero”, de Ratinho e do alagoano Jararaca, é a música mais tocada em todos os carnavais no Brasil. O Frevo continua sendo o estilo musical preferido em Pernambuco e em Alagoas.
O fato é que o Carnaval - maior manifestação cultural brasileira - a cada ano cresce em participação popular e em receita financeira, avançando, além dos polos tradicionais, em regiões antes silenciosas, como Belo Horizonte e São Paulo - que até poucos anos atrás ainda era considerado “o túmulo do samba”. Feliz e saudável Carnaval para todos.