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Nº 5905
Opinião

N�o foram elas, mas o Brasil que perdeu o ouro

| ENNY VIEIRA MORAES * É impressionante, mas não surpreendente, observar os resultados das últimas Olimpíadas da China, especialmente no que se refere às parcas medalhas obtidas pelo Brasil, retrato da delicada situação que envolve não apenas as política

Por | Edição do dia 28/09/2008 - Matéria atualizada em 28/09/2008 às 00h00

| ENNY VIEIRA MORAES * É impressionante, mas não surpreendente, observar os resultados das últimas Olimpíadas da China, especialmente no que se refere às parcas medalhas obtidas pelo Brasil, retrato da delicada situação que envolve não apenas as políticas públicas direcionadas ao esporte nacional, mas as políticas públicas em geral. Entretanto, o fato que nos chamou mais atenção, foram às expressões de desolamento e tristeza refletidos no choro das jogadoras de futebol feminino após a derrota para a seleção americana, que obteve a tão sonhada medalha de ouro. Como historicamente não consideramos normal mulheres disputando partidas de futebol, é igualmente estranho o tratamento direcionado às nossas atletas, que se distingue profundamente daquele direcionado aos jogadores no masculino. A maioria das jogadoras não atua no Brasil pelo fato de sequer termos campeonatos estaduais, muito menos nacionais, por conta da total desatenção da maior parte de nossos dirigentes esportivos. Desse modo, acompanhar a carreira das jogadoras é fato quase impossível, mesmo porque, somente após Marta, alagoana de Dois Riachos, ter sido consagrada a melhor jogadora do mundo pela segunda vez, é que descobrimos que no Brasil, mulher também joga futebol. Sobre este fato poderíamos pensar: mas mulher joga futebol? Esse questionamento poderia até ser considerado coerente se, como demonstram estudos recentes, não houvesse registros de campeonatos femininos do esporte desde o início do século passado e que garotas sempre jogaram futebol. A valorização da mulher, especialmente a partir do século passado, dava-se fundamentalmente pelo fato da procriação – e somente assim ela era valorizada. Esse aspecto foi reforçado com a criação da Lei 3.199 de 1941. Revogada apenas em 1979, tratava de impedir a participação de mulheres em determinados esportes como halterofilismo, lutas, futebol e futebol de salão, considerados “inadequados à saúde reprodutora da mulher”. O estranhamento, portanto, não está diretamente ligado ao futebol, mas à mulher que o pratica. Se isto não é verdade, ver garotas participando de atividades ditas “masculinas”, como o próprio futebol, driblando, demonstrando vigor, força e agilidade corporal, ainda surpreende muitas pessoas, para não dizer que as incomoda. Mesmo quando chegam a participar de campeonatos internacionais, essas mulheres são constantemente associadas a figuras masculinas – a atacante Marta é comumente associada a Pelé. (*) É mestre em História da Educação Física.

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