Milho no motor
Enfim, uma luz no túnel (escurecido pelo preconceito) no qual se transformou o debate global sobre os biocombustíveis. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), divulgou, anteontem, seu relatório anual, onde aprofunda suas pr
Por | Edição do dia 10/10/2008 - Matéria atualizada em 10/10/2008 às 00h00
Enfim, uma luz no túnel (escurecido pelo preconceito) no qual se transformou o debate global sobre os biocombustíveis. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), divulgou, anteontem, seu relatório anual, onde aprofunda suas preocupações com os riscos de prejuízo na produção agrícola voltada para a alimentação em benefício dos lucros com a transformação desses produtos em combustíveis. Nesse documento, a FAO reconhece que o Brasil é uma exceção positiva. No centro das preocupações sérias sobre esta questão, a FAO e outras vozes sóbrias, haviam sido soterradas pelas falácias ecodemagógicas que criavam boatos como a iminência da Amazônia ser invadida pela cana-de-açúcar (desconhecendo a impropriedade edafoclimática de se cultivar cana na região amazônica) e outras sandices do tipo. Em bom momento, a FAO recoloca a questão em seus eixos verdadeiros. E ajusta o foco de sua crítica, dentre outros alvos periféricos, para o principal risco de transposição de produtos agrícolas das mesas para os motores: a política americana de produzir etanol a partir do milho, política essa apoiada em adiposos subsídios. E, sem medo de arranhar as suscetibilidades do gigante do Norte, a FAO, em seu documento, usa precisamente o exemplo do etanol brasileiro como caso positivo contra o etanol americano extraído do milho. Diz o relatório da ONU, textualmente: O etanol de cana brasileiro surge como um correspondente competitivo aos combustíveis fósseis, sem necessidade de subsídios. E a partir daí, centra fogo: As políticas de estímulo e os subsídios aos biocombustíveis devem ser revistos urgentemente pelos países para preservar a segurança alimentar, proteger os pequenos agricultores da especulação do mercado mundial de commodities e garantir sustentabilidade ambiental.