Medidas
Trump e os tarifaços

No anúncio de seu conjunto de medidas, Donald Trump assim se dirigiu ao mundo: “Nosso país foi saqueado, violado e espoliado por outras nações”. Daí, vieram as tarifas sobre importações que chegam a mais de 40%, como é o caso da China e do Vietnã. O tsunami mundial começou já no dia seguinte, com a queda das bolsas de valores. O mundo aguardou com ansiedade o pacotaço tarifário anunciado previamente pelo presidente Trump, e com razão. Ninguém tinha a menor ideia do alcance das medidas prometidas para o dia 2 passado, provavelmente nem ele. O Brasil estaria nele? Ou seria apenas mais um grande blefe do mestre dos mestres dos blefes? Ficamos com 25% para o aço e 10% para as demais mercadorias.
O primeiro objetivo das tarifas seria arrecadar mais impostos para o governo federal, já que Donald prometeu fazer cortes gigantescos nos impostos e precisaria compensá-los de alguma maneira. O assessor de comércio e indústria Peter Navarro alega que as tarifas sobre automóveis vão arrecadar U$ 100 bilhões por ano e as restantes. US$ 600 bilhões. Sem elas, o governo cairá no abismo fiscal. O segundo objetivo é criar empregos na indústria americana, reduzindo importações e estimulando a produção nos EUA.
Um objetivo conflita com o outro: se a indústria americana substituir os bens importados, reduzirá a importação, e a arrecadação das tarifas irá cair, sem levar em conta que a mão de obra norte-americana é mais cara do que a média mundial, o que dificulta a competitividade e a produtividade. Sem esquecer a inflação e o crescimento menor decorrentes desse processo. O que pode levar a uma estagflação.
O banco Goldman Sachs aumentou a probabilidade de recessão norte-americana nos próximos 12 meses de 20% para 35%. A confusão e o amadorismo reinantes no governo cobram seu preço. Ninguém ousa investir em um cenário tão imprevisível.
Seria tolerável se fossem só tarifas nesse balaio alucinado. As relações internacionais podem ser resumidas por uma palavra: confronto.
Trump alardeia para os quatro cantos que irá anexar o seu vizinho Canadá e transformá-lo num estado, o 51º, anexar a soberana Groelândia, e já sugeriu que poderá usar o uso da força. Essas alocuções, sejam verdadeiras ou puros blefes, criam antagonismos nos países envolvidos e nos demais, ameaçados. E vejam só: o nacionalismo/protecionismo norte-americano não contempla os nacionalismos de outros países. Vai ter inflação e até recessão para quase todos. É o oposto da globalização e do multilateralismo.
Trump desdenha de antigos aliados, como a União Europeia, e desdenha do fortalecimento das instituições, acordos e regras internacionais que lhe deram a hegemonia e fortaleceram a globalização nos anos 90 e 00. Despreza qualquer tipo de softer power, que trouxe para o seu ninho a Europa do pós-guerra. Você pode fugir da realidade, mas não das consequências de fugir da realidade. A economia pagará um preço, mas não vai parar. O Brasil busca novos mercados, a União Europeia idem e a China, o Japão e a Coreia voltaram a falar em um novo acordo comercial.