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Nº 5905
Opinião

Cuba est� sangrando

Enquanto as atenções das agências de notícia internacionais se voltam para a balbúrdia generalizada do mercado financeiro, até então considerado auto-suficiente – conforme os ideólogos do neoliberalismo –, flui perdido no meio do noticiário, com dramática

Por | Edição do dia 12/10/2008 - Matéria atualizada em 12/10/2008 às 00h00

Enquanto as atenções das agências de notícia internacionais se voltam para a balbúrdia generalizada do mercado financeiro, até então considerado auto-suficiente – conforme os ideólogos do neoliberalismo –, flui perdido no meio do noticiário, com dramática discrição, um conjunto de dados oficiais procedentes do governo de Cuba e que deve ser interpretado como pedido de socorro. Depois da passagem devastadora dos furacões Gustav e Ike sobre a região caribenha, com especial efeito demolidor na ilha de Fidel, a situação vivida pelo povo cubano atinge talvez um nível que se torna imprescindível a solidariedade dos povos. Pelos dados governamentais, a população de Cuba alcança 11 milhões de pessoas. Se antes da última fúria produzida pela natureza o déficit habitacional já atingia meio milhão de residências, os dados agora são de desolação. Os furacões danificaram gravemente quase meio milhão de casas, com milhares de vítimas. Outras 63 mil foram dizimadas pela força do vento. E, para comprovar que a ilha sangra sob o efeito da destruição, o relato oficial aponta ainda perdas incalculáveis na frágil agricultura e na deficiente rede de infra-estrutura energética. Até os modernos equipamentos turísticos – fonte de receita cubana – sofreram avarias de dimensão considerável. Estive em Cuba em 1995, quando Fidel se deparava com os reflexos impostos pela queda do chamado “socialismo real” e pelo fim dos subsídios da ex-URSS. Os “apagones” em Havana, que se tornariam mais tarde ameaçadores aos brasileiros, em função de um iminente colapso energético, já compunham o cotidiano daquele povo. Avalie agora, com o agravamento do quadro. Há vozes clamando pela suspensão imediata do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos. É evidente que precisa acabar esse cerco asfixiante que já perdura por décadas. É a velha política intervencionista gerando vítimas inocentes. A própria base americana, em território cubano, desmoraliza a postura dos EUA, pois só Deus sabe a extensão das atrocidades cometidas no calabouço de Guatânamo. A ajuda humanitária deve ocorrer de forma incondicional. Mas as crises também geram oportunidades. Cuba não vive mais o tempo dos vôos rasantes de caças americanos em sua jurisdição e necessita fazer seu dever de casa, já que a “guerra fria” acabou faz tempo. Sinalizar para a democracia é o caminho, até para isolar a opinião daqueles que pregam a cultura de paz e agem hipocritamente como palmatória das civilizações. (*) É jornalista.

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