Caminhar
Encontrando forças para seguir adiante

Outro dia, em visita à Polônia, no meio da noite, chegamos a Cracóvia. Em poucos minutos, o aeroporto esvaziou, nada mais funcionava, o transfer que havia contratado falhou. O temor de estarmos praticamente sozinhos em local desconhecido aumentava com o decorrer dos minutos, até que surgiu um veiculo cujo motorista concordou em nos levar até o hotel por um preço acertado, mesmo sem ser táxi, Uber ou Bolt.
Dia seguinte, o sol brilhava como querendo redimir a cidade da agonia oferecida na noite anterior. Após o desjejum, saímos e, para nossa surpresa, estávamos hospedados no coração da vasta Rynek Główny, a principal praça de cidade, templo de sofrimento e destruição durante o conflito mundial do século vinte.
Considerando o que enxergava, para mim o tempo parecia ter encontrado um jeito de costurar feridas. Naquele momento, ali onde o passado ecoa em pedras centenárias, pessoas sorriam e bailavam, animadas por melodias que preenchiam o ar com leveza e alegria, transbordando vida, artistas de rua encantando turistas, cafés pulsantes convidando à conversa e a música embalando passos de dança espontâneos.
Quarteirões adiante a Fábrica de Schindler permanecia como um testemunho da resistência e da esperança, pois enquanto a brutalidade nazista devastava milhões, Oskar Schindler transformou seu estabelecimento comercial em refúgio. Com astúcia e humanidade, salvou mais de mil judeus do destino cruel de Auschwitz. Para aqueles que ali trabalharam, a indústria de artefatos metálicos, não era apenas local de produção, mas um fio de esperança em meio ao desespero.
Dia seguinte, viajamos por alguns quilômetros, até onde está o campo de concentração nazista de Auschwitz, que permanece como um testemunho sombrio da dor e de intolerância. Décadas atrás, a região respirava medo e os gritos, silenciados pelo horror, pareciam sufocar qualquer esperança. Mas a história, mesmo com suas cicatrizes, não conseguiu aprisionar a vida.
Entendo que, agora, a praça Rynek Główny é um palco onde atores espontâneos substituem o caminhar forçado da opressão. Risos calam o silêncio imposto pelo medo. Cada giro, nota musical, palma batida é prova de que a humanidade, apesar de tudo, encontrou forças para seguir em frente.