Festival de trapalhadas
Não é preciso ser perito criminal nem especialista em resgate de vítima de seqüestro para concluir que a equipe do Gate da Polícia Militar de São Paulo, encarregada da operação de resgate das adolescentes Eloá Pimentel e Nayara Rodrigues, cometeu uma séri
Por | Edição do dia 29/10/2008 - Matéria atualizada em 29/10/2008 às 00h00
Não é preciso ser perito criminal nem especialista em resgate de vítima de seqüestro para concluir que a equipe do Gate da Polícia Militar de São Paulo, encarregada da operação de resgate das adolescentes Eloá Pimentel e Nayara Rodrigues, cometeu uma série de falhas durante quase cinco dias em que elas foram mantidas em cárcere privado. Foi um verdadeiro festival de trapalhadas que culminou com a morte de uma refém e ferimentos graves na outra, enquanto o seqüestrador saiu ileso. Seria cansativo enumerar todos os erros ocorridos no episódio, mas, em síntese, o que se observou foi o seguinte: a) gastou-se muito tempo nas negociações que pareciam priorizar exclusivamente a preservação da vida do criminoso, um elemento que demonstrou arrogância e alta periculosidade ao permanecer no apartamento da ex-namorada ameaçando, atirando, dizendo-se o príncipe do gueto; b) a inconcebível permissão para Nayara voltar a negociar com seu seqüestrador, depois que saiu do cativeiro, contrariando o disposto na Lei 8.069 (Estatuto da Criança e do Adolescente); c) a inoportuna e estapafúrdia invasão ao apartamento, sem os equipamentos adequados, com o seqüestrador protegido por uma barricada, que nem a própria polícia esperava encontrar. Coincidentemente, a tragédia em Santo André ocorreu no momento em que está entrando em circuito nacional o filme, Última Parada 174, do cineasta Bruno Barreto, baseado numa história real que ficou conhecida como o seqüestro do ônibus 174, no Rio de Janeiro, em 2000, que terminou com as mortes da refém e do seqüestrador, devido a um erro de abordagem policial. Assim como no caso do ônibus 174, nos desdobramentos do episódio da morte da garota Eloá Pimentel, certamente, estará incluída a realização de uma superprodução cinematográfica, visto que a dramaticidade, a aventura, o suspense e a violência desse fato são ótimos ingredientes para que um cineasta talentoso faça mais um filme sobre o tema. No filme que possivelmente será rodado sobre o caso Eloá, além dos problemas policiais, deverá discutir a questão da doação de órgãos, sem dúvida, a única atitude sensata verificada nesse contexto, já que o fígado, os pulmões, os rins, as córneas e o coração da jovem assassinada estão ajudando a manter outras pessoas com uma melhor qualidade de vida. E até que ocorra outro seqüestro de repercussão nacional, a polícia precisa estudar o emprego de novas táticas para resgatar reféns. (*) É advogado, membro da Comissão Alagoana de Folclore e da Academia Maceioense de Letras.