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Nº 5899
Opinião

Festival de trapalhadas

Não é preciso ser perito criminal nem especialista em resgate de vítima de seqüestro para concluir que a equipe do Gate da Polícia Militar de São Paulo, encarregada da operação de resgate das adolescentes Eloá Pimentel e Nayara Rodrigues, cometeu uma séri

Por | Edição do dia 29/10/2008 - Matéria atualizada em 29/10/2008 às 00h00

Não é preciso ser perito criminal nem especialista em resgate de vítima de seqüestro para concluir que a equipe do Gate da Polícia Militar de São Paulo, encarregada da operação de resgate das adolescentes Eloá Pimentel e Nayara Rodrigues, cometeu uma série de falhas durante quase cinco dias em que elas foram mantidas em cárcere privado. Foi um verdadeiro festival de trapalhadas que culminou com a morte de uma refém e ferimentos graves na outra, enquanto o seqüestrador saiu ileso. Seria cansativo enumerar todos os erros ocorridos no episódio, mas, em síntese, o que se observou foi o seguinte: a) gastou-se muito tempo nas negociações que pareciam priorizar exclusivamente a preservação da vida do criminoso, um elemento que demonstrou arrogância e alta periculosidade ao permanecer no apartamento da ex-namorada ameaçando, atirando, dizendo-se “o príncipe do gueto”; b) a inconcebível permissão para Nayara voltar a negociar com seu seqüestrador, depois que saiu do cativeiro, contrariando o disposto na Lei 8.069 (Estatuto da Criança e do Adolescente); c) a inoportuna e estapafúrdia invasão ao apartamento, sem os equipamentos adequados, com o seqüestrador protegido por uma barricada, que nem a própria polícia esperava encontrar. Coincidentemente, a tragédia em Santo André ocorreu no momento em que está entrando em circuito nacional o filme, “Última Parada 174”, do cineasta Bruno Barreto, baseado numa história real que ficou conhecida como “o seqüestro do ônibus 174”, no Rio de Janeiro, em 2000, que terminou com as mortes da refém e do seqüestrador, devido a um erro de abordagem policial. Assim como no caso do ônibus 174, nos desdobramentos do episódio da morte da garota Eloá Pimentel, certamente, estará incluída a realização de uma superprodução cinematográfica, visto que a dramaticidade, a aventura, o suspense e a violência desse fato são ótimos ingredientes para que um cineasta talentoso faça mais um filme sobre o tema. No filme que possivelmente será rodado sobre o caso Eloá, além dos problemas policiais, deverá discutir a questão da doação de órgãos, sem dúvida, a única atitude sensata verificada nesse contexto, já que o fígado, os pulmões, os rins, as córneas e o coração da jovem assassinada estão ajudando a manter outras pessoas com uma melhor qualidade de vida. E até que ocorra outro seqüestro de repercussão nacional, a polícia precisa estudar o emprego de novas táticas para resgatar reféns. (*) É advogado, membro da Comissão Alagoana de Folclore e da Academia Maceioense de Letras.

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