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Nº 5900
Opinião

Pedofilia e hipocrisia

Eu era ainda uma adolescente e cursava o ginásio no antigo Liceu Alagoano, ali na Rua do Livramento – onde depois funcionou o fórum da cidade, antes de ser transferido para o Barro Duro –, quando surgiu, à boca pequena, a história de determinado prelado q

Por | Edição do dia 30/10/2008 - Matéria atualizada em 30/10/2008 às 00h00

Eu era ainda uma adolescente e cursava o ginásio no antigo Liceu Alagoano, ali na Rua do Livramento – onde depois funcionou o fórum da cidade, antes de ser transferido para o Barro Duro –, quando surgiu, à boca pequena, a história de determinado prelado que costumava aliciar menores, levando-os a sua casa para farras com bebidas alcoólicas, nos finais de semana, que culminavam em orgias sexuais. Falava-se, também, que os aliciados para aquelas práticas eram, invariavelmente, meninos e meninas carentes que esmolavam pelas ruas do Centro da cidade. Sabemos que a imposição do celibato aos sacerdotes da igreja católica foi um dogma criado mais por interesses materialistas do que por determinação da Bíblia ou dos Evangelhos. Visando, sobretudo, impedir que as riquezas da Igreja fossem compartilhadas pelos descendentes dos clérigos. Não há um só lugar em todo o livro sagrado que condene o matrimônio, muito pelo contrário. Em pleno século XXI, porque não reconhecer mais esse equívoco e propor o fim dessa instituição – o celibato – tão antinatural? Ao optar por um caminho equivocado, a instituição católico-romana ficou sujeita aos desvios que hoje vemos acontecer em toda parte, nos Estados Unidos, principalmente, onde a hipocrisia, própria daquela sociedade dita desenvolvida, possibilitou que a quantidade de escândalos fosse maior que em qualquer lugar do mundo. Agora fala-se até em proibir o acesso de homossexuais aos seminários, como se isso fosse possível. E como se a pedofilia também não estivesse presente entre os heterossexuais. Quem não leu Eça de Queirós e seu Crime do Padre Amaro? As crianças e os adolescentes, sejam eles de quaisquer origens, devem ser respeitados e protegidos em seus direitos elementares. O bonito do adolescente é ele próprio ir descobrindo, aos poucos, toda a beleza que enche o nosso mundo, incluindo aí a descoberta sadia da própria sexualidade. E quando um adulto se prevalece de sua posição para conspurcar sua inocência, temos aí um crime que deveria ser considerado dos mais hediondos. Principalmente se se trata de pessoa que deveria estar a serviço das coisas sagradas. São João da Cruz, em livro do século XV, intitulado “Avisos e sentenças espirituais”, já dizia que “Deus tem verdadeiro horror aos que ensinam sua lei mas não a observam.” Deixemos então de hipocrisia e vamos encarar essas questões importantes de maneira franca e aberta. Quem, hoje em dia, pode ser contra a educação sexual, quando vemos a explosão, em nosso Estado principalmente, devido à nossa miséria ainda tão grande, da gravidez na adolescência? E quem, honestamente, mesmo entre os que se dizem católicos, pode ser contra o uso dos preservativos, como forma de defesa não só contra a gravidez precoce mas também contra as doenças que são sexualmente transmissíveis? Ou será que vamos continuar lavando as mãos, achando que tudo é castigo de Deus? (*) É escritora.

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