Encanto
Almas conhecidas

A vida, com sua inesgotável capacidade de encantar, sempre nos reserva momentos que escapam às rotinas e previsibilidades. Recentemente fui surpreendido por convite especial, daqueles que tocam o coração, quando Rostanzinho, sobrinho querido, pediu-me para mediar seu casamento com a doce Thaysa, realizado em Sintra, Portugal.
Aceitei a missão com alegria e respeito, para, diante dos presentes, deixar de lado discursos ensaiados, permitindo-me falar com a voz do coração, compartilhando com os nubentes que a vida a dois é essencialmente um eterno recomeçar, não como um fim, mas como forma de júbilo, renovação, onde cada manhã juntos, cada gesto de cuidado, cada superação de desafios é novo início, oportunidade de crescer lado a lado.
Facilmente senti que quando eles se enxergaram pela primeira vez, não eram estranhos, pois suas almas já se conheciam, e tal qual dois rios que, após longos trajetos solitários, enfrentando pedras, curvas e estiagens, finalmente se encontram e unem suas águas em um só curso, resolveram caminhar juntos virando páginas antigas.
E então, sem pressa, desejaram-se com a maturidade de quem já conhece os temporais da vida, porém ainda acreditam no sol que nasce depois da tormenta, então, com coragem começaram a escrever novo romance polvilhado por afeto e respeito.
Foi quando, mirando os olhos do casal querido, em momento de rara intimidade e êxtase, deixei claro algo que a vida me ensinou com o tempo: após quarenta e cinco anos de matrimônio, promessas e elogios, por mais belos que sejam, passam a ter valor relativo, pois são os olhares, esses que falam em silêncio, que realmente revelam a profundidade do sentimento construído ao longo dos anos.
Para minha surpresa, vi lágrimas brotarem nos olhos de muitos presentes, enquanto a emoção espalhou-se como brisa suave, tocando corações, resgatando memórias, talvez acendendo esperanças.
Ao final, com missão cumprida, fiquei feliz, pois naquele instante compreendi que na confluência de suas histórias, os noivos descobriram que o amor não precisa ser perfeito par.