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Nº 5905
Opinião

O exorcismo americano

Martin Luther King deve estar muito satisfeito com a vitória de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos da América. Na verdade, a campanha de Obama identificou-se bem mais com os conceitos desse grande líder da luta pelos direitos civis nos EUA, do

Por | Edição do dia 07/11/2008 - Matéria atualizada em 07/11/2008 às 00h00

Martin Luther King deve estar muito satisfeito com a vitória de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos da América. Na verdade, a campanha de Obama identificou-se bem mais com os conceitos desse grande líder da luta pelos direitos civis nos EUA, do que algo parecido com as políticas multiculturalistas norte-americanas tão em evidência no mundo desde a década de 90. Tanto que ele evocou Abraham Lincoln, o estadista e presidente dos EUA, em seu discurso de eleito em Chicago, diante de uma entusiasmada multidão calculada pela mídia em um milhão de pessoas. Obama sempre rejeitou o rótulo de “candidato de uma raça”. Adotou a plataforma de presidente de todos os americanos e da união nacional. Mais que isso, conduziu a sua candidatura baseada na profunda insatisfação dos trabalhadores e do americano de classe média em relação às conseqüências da intensa crise econômica que assola aquele país. Combateu a inexistência de uma política pública previdenciária e de saúde nos EUA, o desastre imobiliário que vem confiscando a residência do americano comum, a alta do preço da gasolina, a inflação, o desemprego generalizado, a recessão que assola a nação. Denunciou a hostilidade que sofrem os americanos em todos os continentes, em decorrência da aventura das guerras intervencionistas de império em que se meteu essa nação e que atinge a auto-estima deles. Para ganhar a eleição, Barack Obama fez uma campanha poética e exorcizou, em discurso, muitos pesadelos do americano. Fez aflorar os melhores sentimentos desse grande povo. Agora precisa transformar tanta poesia em realidade, o que convenhamos, é uma empreitada dificílima. Porque o complexo industrial militar permanece com os seus interesses e imenso poder nos destinos dos EUA. Os barões de Wall Street vão continuar ditando as orientações financeiras estratégicas das políticas interna e externa dos EUA. Os países em desenvolvimento vão conclamar o governo de Barack Obama a adotar uma nova postura na política externa, nas relações comerciais, no respeito à autodeterminação e à soberania dos povos e à não-interferência, inclusive armada, nos assuntos internos dos outros países. É o que devem exigir, por exemplo, o Brasil e o Mercosul, todas as nações em desenvolvimento sempre afetadas pela farra, o delírio especulativo e predador de Manhattam, com o total apoio de Washington. (*) É advogado.

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