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Harvard versus Trump:

A democracia resistirá?

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George Orwell, em seu celebrado romance “1984”, descreve uma sociedade cuja mente é controlada por um misterioso tutor chamado Grande Irmão. Esse controle mental é obtido à base de um biscoito ingerido diariamente. Controlar a mente humana é um sonho buscado freneticamente por 10 entre 10 autocratas mundialmente, tendo a América Latina como histórico depositário.

Até a assunção de Donald Trump, os Estados Unidos jamais figurariam como passível de constar dessa lista de autocracias, mas eis que ele surge e promove checagem das redes sociais de candidatos ao visto, deporta estudantes que defendem a causa palestina para países distantes e suspende o financiamento de universidades, como a de Harvard, que insiste em manter sua autonomia. Trump surpreende o pequeno número de atores que se dispuseram a enfrentar os seus ímpetos autoritários. Os EUA sempre se autocongratularam, fosse o governo democrata ou republicano, por ser o país que irradiava democracia para todo o mundo. O atual presidente quer impor a sua visão de mundo à sociedade, e essa visão é ditatorial.

Harvard é a mais antiga e prestigiosa universidade norte-americana, é escorada num fundo de US$ 53 bilhões e no prestígio de 161 prêmios Nobel. Ela tenta resistir, o que outras não conseguiram. Entre as grandes universidades, Harvard, após alguma hesitação, foi a única que explicitou o objetivo de resistir às tentativas de Trump de interferir em seus currículos, contratações e questões disciplinares internas. Empresários que haviam sido vozes críticas ao republicano em seu primeiro mandato agora se calam. Se há quem ainda o enfrente, não é desprezível o número dos que passaram a apoiá-lo. Escritórios de advocacia dos quais se se esperaria uma defesa mais amparada dos princípios das instituições liberais, também foram rápidos em ceder ao ditador, com honrosas exceções.

Uma sociedade que nunca enfrentou o autoritarismo, como a norte-americana, pode-se dizer que é como um ser humano que nunca enfrentou uma virose.

Não tem anticorpos para enfrentar o déspota. A luta da sociedade representada nesse momento por Harvard tem nela um símbolo contra a ambição de Trump em determinar e controlar os conteúdos que a universidade pode ou deve ensinar, é uma imitação grotesca dos estados totalitários, é a barbárie em solo antes referencial de democracia.

Está em curso a ambição trumpista de produzir a hegemonia cultural, que não passa de ambição jacobina de sentido inverso, que vai durar enquanto seu mentor durar na presidência. No seu rastro, e como sempre acontece com o jacobinismo ficará apenas injustiça e destruição. Alunos perdidos, pesquisas suspensas, carreiras abortadas, estagnação e destruição. O ressentido, esse, terá se vingado.

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